O Brasil, segundo levantamento de 2022 do FMI, tem um gasto primário de 38,22% do PIB com serviços que oferece à população. Este patamar de gastos é superior ao de outros países emergentes, inclusive pares latino-americanos como Chile, México e Argentina, mas também China, África do Sul e Índia. O gasto primário inclui despesas com saúde, educação, segurança, abrange a previdência e, onde mora boa parte do problema, a máquina pública.
A partir da Constituição de 1988, o Brasil fez a opção de manter um Estado de maior peso, sendo o setor público o provedor de todos esses serviços essenciais, com um sistema de saúde universal, Previdência Social muito abrangente, e programas sociais de transferência de renda expressivos, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o Bolsa Família, com um custo que só tem aumentado ao longo das décadas, mas sem um retorno considerado favorável.
O peso das despesas e sua falta de flexibilidade têm se mostrado um problema sério que precisa ser tratado. Enquanto o Brasil tem um gasto primário de 38,22% do PIB, a Argentina (35,2%) vive um momento de reorganização e diminuição dessas despesas, mas Chile (25,8%) e México (23,2%) apresentam níveis mais baixos e menos pressão sobre a arrecadação e o endividamento do país.
A carga tributária atual do Brasil gira em torno de 35% do PIB, muito alta e bastante desigual, com inúmeras distorções, que travam o crescimento econômico. O déficit recorrente tem gerado um aumento expressivo do endividamento do país, com um aumento de 4,4 pontos percentuais em apenas 2 anos, passando de 71,7% em 2022 para 76,1% em 2024.
A máquina pública precisa ser revisada e repensada. Os gastos com pessoal se mantêm muito elevados, com entregas ineficientes e sem o uso adequado de avanços tecnológicos, que levam a muita burocracia e reclamações constantes da população. Ou seja, a sensação é de que se paga muito imposto para pouco retorno. Acrescenta-se a isso a evolução significativa dos gastos com programas sociais, como Bolsa Família, BPC e Seguro Desemprego, que mostram um peso significativo no orçamento e trazem distorções no mercado de trabalho.
Pelo lado da receita, os problemas vêm das inúmeras exceções criadas ao longo dos anos, que privilegiam determinados setores e regiões, travando a economia e mantendo uma carga tributária muito alta em produtos essenciais, como os combustíveis.
Todos esses problemas têm se agravado ao longo dos anos, enrijecendo o orçamento do Estado, que fica sem recursos para fazer investimentos públicos. Investimentos que, muitas vezes, são ineficientes, caros e mal geridos. A mensagem que se constrói, e que precisa ser desfeita, é que o país não tem um horizonte saudável para o longo prazo, com uma máquina pública que irá falir em determinado momento.