Acervo

/Foto: Freepik / Divulgação
Quem nunca ouviu a frase “a internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto”?!
Essa frase não poderia ser mais verdadeira, o cenário parece inquestionável, se você olhar ao redor, verá cada um vidrado na sua tela, no seu mundo, na sua bolha, vivendo os seus próprios interesses, criticando e julgando os diferentes e convivendo em um ciclo social onde não há opiniões divergentes. A capacidade de ouvir e refletir parece resumida aos próprios interesses. Já percebeu esse cenário? Muitas vezes estamos tão inseridos nesse contexto, que normalizamos. Vale a pena refletir!
Pode parecer cômodo, e é, mas não é tão benéfico quanto parece trocar ideias com o espelho, esse formato trazido pelas redes sociais que, à primeira vista pode parecer interessante por aproximar interesses comuns, acaba por prejudicar a tolerância, o diálogo e a aceitação do outro, de suas ideias e pensamentos por serem diferentes. E esse é um pequeno recorte no complexo cenário.
Há um filtro invisível, como bem colocou Eli Pariser, e Redes sociais como a Meta - Facebook, Instagram - colocam os usuários em bolhas, filtram as ações dos usuários a partir dos likes e compartilhamentos realizados na rede, separando as informações apresentadas ao usuário. E ocultando atualizações de amigos com quem se interage pouco, mostrando mais daquilo que o usuário tem como preferência, isso vale para tudo, incluindo pessoas, pesquisas e produtos.
Quando nos dividimos e passamos a conviver apenas com quem pensa igual e tem os mesmos interesses, reduzimos a nossa capacidade de tolerância, empatia, respeito e afetamos a capacidade analítica, além da dificuldade de ouvir, de verdadeiramente escutar, sem permitir refletir sobre o que está sendo dito. Em períodos eleitorais, esse cenário fica mais claro e difícil. As pessoas não debatem mais ideias, apenas posições partidárias e ideologias.
O contato com o diferente pode ser estressante, conviver com opiniões divergentes pode ser inquietante, pode trazer pouca satisfação, ser incômodo, mas rejeitar e se isolar em tribos, não fará tudo desaparecer, vai apenas trazer uma visão ilusória temporária, que pode de início, trazer paz, mas ao final vai apenas fomentar a raiva por quem não se enquadra na mesma caixinha.
Isso fica perceptível nos debates, seja ele aonde for, nas redes sociais, ou entre amigos, colegas, familiares, ideias que não se encaixam na própria visão de mundo não são bem-vindas. As justificativas são inúmeras, cansaço “não tenho mais condição de debater sobre isso”, tempo “nem tempo eu tempo para debater esse assunto”, negação “se estivesse no meu lugar, pensaria o mesmo”, mas o fato é que não há mais respeito pela opinião do outro. Vivemos a era da “opinião própria soberana”.
Observe que, parece um cenário de guerra, quem não está comigo, está contra mim, os diferentes passaram a ser considerados inimigos, e ao serem detectados, precisam ser isolados, personas non gratas em determinado ciclo. A pessoa se torna um ser estranho, ainda que seja um velho amigo ou até um parente, ao se tornar “estranho”, é indiferente, tudo bem se for atacado, calado e ignorado, suas ideias, opiniões e posições, e a própria existência, passa a ser ameaçadora. Parece exagerado? Infelizmente vejo isso acontecendo com mais frequência que gostaria.
A intolerância toma conta das ruas físicas e digitais, dos grupos de amigos, parentes e de colegas, inclusive virtuais, bate o saudosismo de quando as relações eram repletas de diferenças e divergências e ainda assim, no final, todos se entendiam, conviviam com a divergência, qualquer opinião contrária ou diferente não era sentença de exclusão, havia calor humano, olhos nos olhos, e se trocava ideias e não curtidas e impressões.
Deveríamos reavaliar? Certamente!