Desmatamento na Amazônia cai 30,6%, menor índice em nove anos
Dados preliminares do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) mostram redução na floresta amazônica; Cerrado, por outro lado, ainda lidera devastação
Publicado: 06/06/2025 às 16:27

Entre agosto de 2024 e maio de 2025, os órgãos federais realizaram 18.964 operações de fiscalização na Amazônia (WASHINGTON ALVES)
O desmatamento na Amazônia apresentou uma queda expressiva de 30,6% em 2024, atingindo o menor índice desde 2015. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (6/6) pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MME). Entre agosto de 2023 e julho de 2024, foram 6.288 km² de floresta derrubada, o menor índice registrado desde 2015.
O levantamento foi realizado com base em dados do sistema do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O sistema, considerado o mais eficaz para medir as taxas anuais de desmatamento, é baseado na análise das chamadas “cenas prioritárias” da região. A taxa consolidada, no entanto, será divulgada apenas em novembro, quando todas as áreas forem processadas.
Apesar da redução de destruição na Amazônia, a situação do Cerrado continua preocupante. O bioma teve uma supressão de 8.174 km² de vegetação nativa no mesmo intervalo, o que, embora represente uma queda de 25,7% frente ao período anterior, ainda o coloca como líder em área desmatada no país. O dado interrompe uma sequência de cinco anos de alta, mas reforça a pressão contínua sobre a savana mais biodiversa do planeta.
No Pantanal, a redução proporcional foi ainda mais significativa. Entre agosto de 2024 e maio de 2025, houve uma queda de 74% nos alertas de desmatamento, com recuo de 65% apenas no mês de maio, em relação aos mesmos períodos do ano anterior. Os incêndios também foram menores, em maio, a área atingida foi inferior a 10 km², representando uma queda de 99%.
Entre agosto de 2024 e maio de 2025, os órgãos federais realizaram 18.964 operações de fiscalização na Amazônia. As ações resultaram na aplicação de R$ 3,1 bilhões em multas, 5.002 autos de infração, 560 mil hectares embargados e 9.009 notificações para medidas de combate a incêndios. No Cerrado, foram R$ 578 milhões em penalidades e 737 autos de infração. Já no Pantanal, as sanções totalizaram R$ 430 milhões, com destaque para 3.297 notificações específicas para prevenção de queimadas.
PL da devastação
Especialistas alertam que o avanço de propostas legislativas para flexibilizar o licenciamento ambiental pode comprometer os esforços de redução do desmatamento. A medida é vista com preocupação por organizações que atuam na preservação dos biomas e no combate à crise climática. Especialista em conservação do WWF-Brasil, Ana Carolina Crisostomo, afirmou que os compromissos assumidos pelo Brasil de zerar o desmatamento não deverão ser cumpridos com a aprovação do projeto de lei (PL) 2159/2021, chamado de PL da Devastação, aprovado recentemente pelo Senado.
"Em um país onde o desmatamento e a agropecuária são os principais vetores de emissões de gases de efeito estufa, a flexibilização do licenciamento ambiental representa não apenas um risco, mas uma ameaça concreta à preservação dos biomas e à estabilidade climática. É a institucionalização de uma nova ‘boiada’, em total desacordo com os compromissos que o Brasil assumiu para zerar o desmatamento até 2030 e cumprir o Acordo de Paris. Trata-se de uma escolha que compromete o futuro do meio ambiente e da sociedade brasileira."
Alexandre Prado, líder em Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, ressaltou que, apesar dos avanços do país no combate ao desmatamento, a floresta amazônica continua sendo davastada, comprometendo o clima e a biodiversidade.
"No ano da COP30, mais uma vez recebemos o alerta do extremo climático que o planeta está passando. Apesar de todos os avanços importantes que o Brasil vem fazendo no combate ao desmatamento, as consequências das mudanças climáticas já estão evidentes na Amazônia, com secas extremas que aumentam os incêndios florestais. Estamos perdendo centenas de quilômetros quadrados de floresta por mês — um ritmo incompatível com esta emergência climática que vivemos. Manter a floresta em pé é essencial para proteger o clima, a biodiversidade, os povos da floresta e obviamente a vida humana com qualidade de vida em nosso planeta. Não há Planeta B. Por isso, é hora de intensificar os esforços e unir toda a sociedade em torno de uma meta clara e ambiciosa já acordada pelos mais de 190 países que participam da COP: alcançar o desmatamento zero."
Confira as informações no Correio Braziliense.

