O que você deixou de ser quando cresceu?

Rennan Brayner
Consultor e ativista

Publicado em: 09/05/2019 03:00 Atualizado em: 09/05/2019 06:59

“O homem chega à sua maturidade quando encara a vida com a mesma seriedade com que uma criança encara uma brincadeira”. Através desta reflexão promovida pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, dedico este artigo à habilidade comportamental mais valorizada pelos executivos no mundo: a criatividade, em torno da qual existem muitos mitos, bloqueios e mistérios. De fato, para se ter um estado mental rico em recursos e alternativas para exponencializar o potencial da criação, é preciso abrir espaço para ela. Mas como se faz isso?

A verdade é que, quando nascemos, somos pura essência, apenas reagimos. É uma época em que vivemos com autenticidade as emoções básicas como alegria, medo, tristeza e raiva. Essa é a parte mais autêntica do ser humano, representada pelo mesmo hemisfério do cérebro que processa os sonhos e as imagens, e é estimulada quando se usa a criatividade e a arte.

A essa parte autêntica, criativa, impulsiva e curiosa, - que se baseia nas sensações e busca satisfazer necessidades e desejos -, foi dado o nome de Criança Livre pelo psiquiatra canadense Erick Berne. Dentro da Teoria da Análise Transacional, a Criança Livre é um dos chamados “Compartimentos de Ego”. É responsável pela criatividade. Por ser a primeira a surgir, logo quando nasce o indivíduo, atesta que todos possuem um tanque de criatividade, que pode ser acessado. Ocorre que, à medida que vamos “adultecendo”, a criança livre vai sendo tolhida pela educação, pela cultura, pelos estereótipos. As pessoas assumem papéis, colocam máscaras de ego até chegar ao ponto de virarem desconhecidos de si mesmos, verdadeiros cavaleiros presos em armaduras.

Será a criatividade uma questão de permissividade? Normalmente, as pessoas não têm o cuidado em abrir suas mentes ao potencial da criação, elas possuem bloqueios e armaduras, que as protegem de conhecimentos perigosos, capazes de prejudicar a visão de mundo que os fez ser quem são. Vamos crescendo e aprendendo coisas, ou melhor, internalizando certezas. E, quanto mais velhos, com mais força defendemos as nossas verdades. Ficamos tão adultos e tão cheios de certezas que nos esquecemos de olhar o mundo com a curiosidade de uma criança, que se encanta com o óbvio e está atenta a todas as informações deste mundo tão curioso.

O potencial da criação se transforma quando nos concentramos na extraordinária (e hilária) criatividade infantil. E o movimento criativo é uma espécie de retorno à essência, de reconexão, de libertação da Criança Livre e de abrir espaço para que ela volte a falar por nós, seja no tempinho enquanto dançamos numa festa com amigos, seja com as pessoas dentro da nossa casa. Que tal deixar que ela tome conta dos nossos sonhos enquanto dormimos? Ou comande a maneira como olhamos a vida? Quanto tempo faz que você não se conecta com essa parte criativa? A mais pura, potente e bela versão de si mesmo. Por fim, nunca é tarde para refletir: o que mais você deixou de ser quando cresceu?

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