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Com poucos minutos, Alice Carvalho brilha em 'O Agente Secreto': "Força com elegância''

A atriz Alice Carvalho roubou a cena em 'O Agente Secreto' com poucos minutos e explica ao Diario como se preparou para um dos papéis mais complexos da sua carreira

Por Allan Lopes

Alice Carvalho é a professora Fátima Nascimento em 'O Agente Secreto'

São poucos minutos em cena, porém, mais que suficientes para Alice Carvalho, no papel da professora universitária Fátima Nascimento, dominar a telona em O Agente Secreto. A atriz potiguar — em ascensão após papéis como a intensa Dinorah, em Cangaço Novo, e a introspectiva Otília, em Guerreiros do Sol — encarnou um dos seus trabalhos mais complexos sob a direção de Kleber Mendonça Filho. Nele, personifica alguém cuja imagem é construída pelo olhar alheio, restando-lhe apenas uma janela mínima, porém decisiva.

Em meio à projeção por terceiros, aguarda-se, portanto, o momento em que Fátima, essa figura central no imaginário da trama, poderá, ela mesma, se expressar. A resposta, quando vem, está entre as cenas mais icônicas de O Agente Secreto. Em entrevista ao Diario, Alice atribui o sucesso da personagem à uma firmeza silenciosa. “O grande lance da Fátima foi que sua força precisou ser sintetizada com elegância”, avalia. Sua atuação está chamando tanta atenção que, segundo revelou o jornalista Rodrigo Salem, Ryan Coogler chegou a cogitar seu nome para o novo Pantera Negra.

O feito impressiona ainda mais considerando a rotina da atriz, que precisou conciliar as gravações de O Agente Secreto com a novela Renascer no Rio de Janeiro, baseando-se quase exclusivamente apenas no roteiro de suas cenas “Seria impossível acompanhar tudo na correria, então me concentrei apenas na minha parte”, conta. A sintonia entre elenco e equipe técnica, porém, garantiu fluidez às filmagens. “Todo mundo entendeu o que estava fazendo ali”, complementa Alice.

Parte disso, argumenta ela, se deve a uma simplicidade, que é contida e perfeitamente dosada, nunca superficial. “É muito emocionante ver o trabalho do Wagner e o da Dona Tânia. Não tem firula, não tem excesso. É simples, é seco, não é dissimulado. Isso é muito massa”, celebra a potiguar, que credita a Kleber Mendonça Filho a condução desse processo. “Ele é um diretor que equilibra precisão e experimentalismo, e nesse espaço te convida a uma atuação simples”, explica.

O momento mais marcante para Alice aconteceu no Festival de Cannes, durante a première de O Agente Secreto, quando o assistiu pela primeira vez e testemunhou os treze minutos de aplausos. “Pela experiência em si, esse filme inaugurou um sentimento inédito em mim. Fui arrebatada por uma emoção que nenhum outro trabalho me trouxe antes”, declara. Após circular por festivais nacionais, ela faz barulho para manter o público nas salas de cinema, enquanto Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura comandam a campanha de divulgação internacional.

Com o reconhecimento do longa pernambucano se consolidando no exterior, a próxima parada é o Globo de Ouro, em que possui indicações nas categorias Melhor Filme — Drama, Melhor Ator — Filme de Drama e Melhor Filme em Língua Não-Inglesa. A ironia é que, apesar do rótulo de “drama”, drama é o que menos há nessa caminhada. “Pensar em um Oscar é de emocionar, mas o processo inteiro, até chegar lá, também está sendo incrível. Está todo mundo tranquilo”, garante. Eis a megalomania pernambucana em seu auge: serena, grandiosa e absolutamente segura de si.