Thereza Eugênia relembra carreira permeada de grandes nomes da música
Fotógrafa reconhecida por eternizar momentos mundanos de grandes nomes da MPB, Thereza Eugênia fala ao Viver sobre suas inspirações e mudanças ao longo da carreira
Imagina ver, conviver e capturar de perto momentos da intimidade de Caetano, Bethânia, Gal e tantos grandes nomes da música brasileira no auge histórico de suas vidas. Isso é apenas o começo da história de um dos mais importantes nomes da fotografia brasileira. Nascida no município baiano de Serrinha e formada em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia, Thereza Eugênia, hoje com 85 anos de idade e incrivelmente ativa, sabia desde cedo que os cliques fariam parte de toda a sua vida, só talvez não soubesse que fariam parte também da de tantas outras pessoas que ganharam algumas de suas mais icônicas fotos.
O contato com a fotografia surgiu através de sua avó, Zizu Paes, que tinha um laboratório fotográfico em sua casa. Nessa época, ainda na infância, ela já começava a desenvolver o seu olhar e a escutar vários tipos de música. Tanto esse olhar quanto esse gosto musical curioso se tornaria muito mais aguçados e se cruzariam em um trabalho único a partir do momento em que Thereza foi morar no Rio de Janeiro em 1964, onde passou a acompanhar toda a cena que pulsava no país naquele momento.
"Me lembro que o primeiro show que eu vi foi de Maria Bethânia, Comigo me Desavim, em 1967, um dos mais incríveis de todos os tempos. Ali eu já fiz algumas fotos. Dois anos depois, fui ver Gal Costa na Boate Sucata, e depois Roberto Carlos, no Canecão", conta Thereza em entrevista ao Viver. "Nessa época a máquina que eu tinha era bastante simples, nem mudava a lente, tanto que cheguei a pedir emprestado a câmera do gerente, que chegou a comentar: como você manda uma pessoa que não sabe nem segurar uma máquina para um show do Roberto?", relembra, se divertindo.
Nesse período, a fotógrafa se tornou grande amiga de Guilherme Araújo, empresário de várias personalidades em particular do Tropicalismo, como Gal, Ney Matogrosso, Gilberto Gil e Caetano Veloso. Com ele, Thereza conseguiu acesso a esses grandes artistas, se especializando tanto nos shows quanto em fotos espontâneas deles sozinhos. "Eu ia na casa de Bethânia, tirava fotos dela na piscina, por exemplo, de maneira sempre muito leve. Naquele período, eu não tinha tanta noção de composição, então era tudo muito intuitivo. Gostava de fotografar essa galera nesses momentos de maior proximidade mesmo, quando estão só. São quadros que revelam mais deles", ressalta.
Essa coleção de fotografias icônicas inclui ainda um dos mais antológicos registros de Caetano e da saudosa Ângela Ro Ro. É um acervo que cresceu conforme ela adquiriu experiência, culminando no livro Thereza Eugênia Portraits, que reúne em quase 200 páginas fotos capturadas de artistas da MPB durante toda a fervilhante década de 1970. No Recife, Thereza trouxe esse ano a exposição Encontros, com mais momentos íntimos desses grandes nomes com quem conviveu.
Ainda no bate-papo, a fotógrafa se mostra em atualização constante. "Quando eu vou aos shows, hoje em dia, faço mais vídeos do que fotos, inclusive para as redes sociais. As pessoas estão cada vez mais acostumadas em ver e ouvir. O último que me marcou foi o da Alice Caymmi cantando o repertório da tia, Nana Caymmi, que é absolutamente lindo. E eu entro sempre como uma pessoa da casa", relata Thereza, marcando mais um registro de tantos outros que ficaram para a história.