Ex-vereador morto pela PM era réu por liderar facção que importava drogas do Paraguai
O ex-vereador morreu nesta quinta-feira (18), após reagir a uma operação da Polícia Militar em Vertentes, no Agreste de Pernambuco
Réu na Justiça Federal por tráfico internacional de drogas, o ex-presidente da Câmara de Vereadores de João Alfredo, José Joacir Cristóvão da Silva, o 'Oim', de 47 anos, era acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de liderar uma facção que importava drogas do Paraguai para diversos estados brasileiros.
O ex-parlamentar morreu nesta quinta-feira (18), após reagir a uma operação da Polícia Militar em Vertentes, no Agreste de Pernambuco.
Segundo a denúncia, obtida pelo Diario de Pernambuco, Oim era o responsável por financiar a aquisição de cargas, negociar com fornecedores estrangeiros e gerenciar a complexa logística de distribuição interestadual. Além de Oim, o esquema seria encabeçado, também, por Rafael Leandro de Campos, conhecido como Gordão, que está preso.
Eles são acusados de importar e mandar transportar 299,6 kg de maconha e 106,75 kg de cocaína de origem paraguaia, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, conforme o MPF.
A facção foi alvo de Operação da Polícia Federal em 19 de setembro de 2024. Oim estava foragido desde então. A operação investigou 17 pessoas e resultou no cumprimento de 12 mandados de prisão temporária, além de sete prisões em flagrante e 16 mandados de busca e apreensão em nove cidades de seis estados, sendo eles Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, São Paulo, Santa Catarina e Goiás.
Denúncia
Provas colhidas de arquivos armazenados na nuvem do ex-parlamentar revelaram uma rotina intensa de crimes. De acordo com o MPF, os dados extraídos mostram negociações recorrentes de drogas, comprovantes de depósitos bancários na casa dos milhares de reais e uma gestão logística que incluía a transferência da titularidade dos caminhões, usados para o tráfico, para os motoristas da vez.
De acordo com a Procuradoria, o grupo criminoso é “especializado em transporte transnacional e interestadual de entorpecentes”, ocorridos entre 2022 e 2023. Para isso, eles utilizaram, conforme o MPF, de caminhões e semirreboques, seguindo um mesmo modus operandi “na tentativa de ludibriar a fiscalização policial”, segundo a denúncia.
Já Gordão é considerado pelo MPF como o gerente operacional do esquema. Em uma troca de mensagens ocorrida em 20/04/2022, ele tenta convencer Oim a comprar uma embaladora à vácuo, que seria usada para “agilizar o processo de embalar os entorpecentes”.
Em um trecho anexado à denúncia, Rafael envia um folder com detalhes, um link do YouTube mostrando como a máquina funciona e que achou a pronta entrega. Oim pergunta o valor. Sete dias depois, Gordão envia uma foto dos entorpecentes embalados a vácuo, escondidos em um fundo falso de caminhão.
Em 08/05/2022, Gordão pediu a aprovação de Oim quanto a textura e coloração de uma cocaína que seria transportada. Em um áudio transcrito pelo MPF, Gordão diz: “Ele falou que está assim porque foi secada muito rápido, mas ela é bem escura”.
Em junho do mesmo ano, mensagens interceptadas mostram Gordão e Oim ameaçando sequestrar e enterrar um dos motoristas do esquema, Adelson Marques da Silva, que teria descumprido o compromisso de transportar 600 kg de drogas. Na ocasião, Oim enviou um áudio a Gordão, conforme o MPF, em que afirmava que ensinaria ao motorista que ele estava "lidando com criminoso". O conflito interno teria sido motivado após a prisão de outro motorista do grupo, conhecido como "Polaco".
Em julho de 2022, Gordão foi preso. No entanto, conforme os autos, ele continuou a gerenciar o esquema. De acordo com a denúncia, ele e Oim trocaram mensagens sobre o controle de motoristas e caminhões e discutiram estratégias para burlar a fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Segundo a Procuradoria, o secretário de finanças do grupo, Célio Pereira de Arruda, e o ex-parlamentar continuaram exercendo juntos as atividades criminosas após a deflagração da operação da PF. Com a morte de Oim, Célio é o único foragido do grupo.
A trajetória política de José Joacir Cristóvão da Silva, o 'Oim', teve início em 2016, quando foi eleito vereador pela primeira vez, então filiado ao PSB. Depois, foi reeleito pelo PSD e, em 2024, tentou uma nova reeleição pelo Podemos.