‘Pegada suicida’ pode ter causado morte de homem em academia de Olinda
Especialistas apontam que vítima passava todos os cinco dedos por cima da barra, apoiando-a apenas na palma de suas mãos, ao invés da empunhadura em gancho
O manuseio errado do equipamento para o exercício de supino reto com barra livre pode ter sido determinante no acidente que resultou na morte do presidente do Palácio dos Bonecos Gigantes de Olinda, Ronald José Salvador Montenegro, de 55 anos, na última segunda-feira (1º). Através das imagens, especialistas analisam que ele segurava a barra com uma “pegada falsa”, também conhecida como “pegada suicida”, quando ela escorregou de suas mãos e atingiu seu peito.
No vídeo que circula nas redes sociais, é possível observar que Ronald passava todos os cinco dedos por cima da barra, apoiando-a apenas na palma de suas mãos. Segundo profissionais da educação física, os polegares deveriam passar por baixo do instrumento, como um “gancho”, encontrando o dedo indicador.
Para o personal trainer Jefferson Diego, o erro aconteceu no momento em que Ronald retira a barra do suporte sem a pegada firme.
“Esse tipo de pegada não é aconselhada pelo risco do objeto escorregar e cair em cima do seu corpo. A sudorese excessiva nas mãos pode fazer o objeto deslizar nas palmas. Com a pegada tradicional, envolvendo todos os dedos, temos mais segurança, firmeza, força e estabilidade para realizar o movimento”, explicou.
“Às vezes o indivíduo prefere fazer esse tipo de pegada falsa por um conforto articular, mas será que vale o risco?”, questionou.
Um possível desconforto articular ou fraqueza também pode estar relacionada ao acidente. Segundo o professor de educação física da Escola Técnica Estadual de Igarassu, Alexandre Penha, mesmo com a “pegada suicida”, Ronald ainda poderia ter forças para desviar a barra de seu peito e minimizar os danos, ou ter notado a falta de firmeza na empunhadura e parar a execução.
Penha avalia que um desconforto articular ou fraqueza poderiam explicar a queda repentina do objeto. “O detalhe é que ele larga das duas mãos. Então, para mim, está relacionado muito mais a uma fraqueza”, pontuou.
O que diz o Cref
O presidente do Conselho Regional de Educação Física (Cref) da 12ª Região/Pernambuco, Lúcio Beltrão, esclareceu que não foi determinada uma causa para o acidente.
“Eu não sei se aquele exercício estava prescrito pelo professor na ficha do aluno, se ele fez da cabeça dele, se aquela carga foi a que o professor passou ou se ele aumentou, se ele teve um mal súbito durante a execução do movimento. Tem várias hipóteses”, afirmou.
Entretanto, Beltrão reforçou que a técnica correta de cada exercício garante mais segurança na execução. “Quando você fecha o dedo, diminui o risco de a barra cair, porque você tem um dedo ali dificultando. Eu diria que tudo que você faz para reduzir o risco, você deve tentar fazer”, disse.
Segundo o presidente, também é essencial que todos os treinos sejam prescritos aos alunos por um profissional de educação física.
“O Cref tem procurado orientar a sociedade a treinar sempre com a orientação do profissional de educação física e contratar um personal sempre que puder. É um investimento, não é um gasto. É uma série de cuidados que ajudam a reduzir os riscos”, declarou.
Em nota, o CREF12/PE informou que a academia estava regularizada e com profissional de Educação Física presente no momento em que Ronald sofreu o acidente.