Pastor é condenado por estuprar três jovens com deficiência em igreja na Mata Sul
Pastor está preso preventivamente desde novembro de 2024; vítimas eram irmãos entre si
A Justiça de Pernambuco condenou um pastor da Igreja Assembleia de Deus, de 69 anos, por abusar de três jovens com deficiência intelectual, que são irmãos entre si, dentro de uma igreja em Palmares, na Mata Sul de Pernambuco. A sentença, assinada em 27 de outubro, determinou pena de 16 anos, sete meses e 28 dias de reclusão por estupro de vulnerável.
Segundo a denúncia, por quatro vezes em 2021 o pastor praticou ato libidinoso contra um homem de 19 anos, que, por ter deficiência mental, não tinha discernimento sobre o que ocorria. Os abusos ocorreram na igreja e na casa do pastor.
"Apesar de sua condição de vulnerabilidade psicológica, a vítima conseguiu narrar os fatos com riqueza de detalhes, descrevendo o local dos abusos (igreja, casa do pastor, banheiro, escada), a forma como eram praticados (...), o modus operandi do acusado (...) e o sentimento de estar 'preso' porque o acusado era seu pastor", escreve na sentença o juiz Flávio Krok Franco, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Palmares, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
Uma das outras vítimas relatou que o acusado os atraía para a igreja, onde cometia os estupros. Segundo ele, o pastor e os filhos dele os ameaçaram de morte. O jovem contou ter desenvolvido graves traumas psicológicos.
O terceiro irmão narrou que os crimes ocorreram no andar de cima da igreja e que o acusado o chamava de “menina do papai”. Ele relatou a situação à tia com quem moravam, que levou o caso à polícia.
Em depoimento, a tia contou que o pastor confessou os crimes. "Realmente eu errei. Me perdoe. Prometo a você não fazer mais", teria dito a ela.
“Brincadeiras”
Para o juiz, as testemunhas de defesa do pastor não contribuíram para os autos uma vez que não teriam presenciado “qualquer dos fatos narrados na denúncia”. "Limitaram-se a tecer elogios ao acusado, relatando sua suposta conduta ilibada e seu trabalho como pastor", registrou o magistrado.
Já o religioso, em interrogatório, negou a prática de atos libidinosos, "admitindo apenas 'brincadeiras' de natureza não especificada", cita o magistrado. Disse ainda não saber o porquê de estar sendo acusado, já que sempre ajudou as vítimas.
Na época que o caso foi denunciado, a Polícia Civil afirmou que o acusado confessou o crime. Posteriormente, em sua defesa, ele disse não ter lido o que dizia o documento com a confissão assinado na delegacia.
Para o magistrado, o pastor se aproveitava da condição de líder religioso para atrair as vítimas, utilizando dinheiro e ameaça para garantir o silêncio.
"Ressalte-se ainda que as 'brincadeiras' admitidas pelo réu são absolutamente incompatíveis com sua condição de líder religioso, pastor de igreja evangélica, pessoa que deveria zelar pela moral, pelos bons costumes e, principalmente, pela integridade física e psicológica de seus fiéis, especialmente aqueles em condição de vulnerabilidade", afirma o juiz.
O pastor está preso preventivamente desde novembro de 2024. A reportagem não conseguiu localizar a defesa dele.