Esquema envolvendo emendas parlamentares gerou repasse de quase R$ 40 milhões para instituto em Ipojuca
Polícia Civil detalhou, nesta sexta (3), atuação de uma organização desarticulada pela Operação Alvitre, que prendeu duas advogadas e uma pessoa que trabalhava em faculdade
A Polícia Civil de Pernambuco investiga o repasse de R$ 39 milhões, por meio de emendas parlamentares, ao longo de três anos, ao Instituto de Gestão em Políticas Públicas do Nordeste (IGPN), em Ipojuca, no Grande Recife. Segundo a corporação, o IGPN não tinha capacidade técnica nem operacional para atuar na área da saúde.
Além do Instituto, a Operação Alvitre, deflagrada pela PCPE, na quinta-feira (2), teve como alvos uma faculdade (em Ipojuca) e a Associação Rede Vhida, em Caruaru, no Agreste
Três pessoas foram presas, entre elas duas advogadas e uma mulher que tinha ligação com a instituição de ensino. Segundo a Polícia, As advogadas atuavam fraudando documentos importantes para as transações financeiras. O papel da outra presa não foi detalhado pela corporação e os nomes não foram divulgados oficialmente.
Os detalhes da operação foram divulgados, nesta sexta (3), durante entrevista coletiva concedida pela Polícia no Recife.
Segundo a promotora Katarina Gouveia, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Pernambuco (Gaeco/MPPE) que participou da ação, o resultado de desvio de verbas públicas em Ipojuca corresponde a 2% da receita do município.
Dos 13 vereadores de Ipojuca, nove destinaram emendas impositivas para o IGPN. Números divulgados pela Polícia Civil mostram que em 2022, foram destinados R$ 2,28 milhões, enquanto em 2025 os repasses saltaram para R$ 25 milhões.
"Até agora, não foi possível identificar se os parlamentares, que destinavam essas emendas tinham conhecimento de que eles não tinham essa capacidade técnica operacional e não executavam o objeto conforme o previsto. Estamos no início das investigações", afirmou a promotora.
Operação
Segundo o delegado Ney Luiz Rodrigues, titular da Delegacia de Porto de Galinhas, dos sete mandados de prisão expedidos pela Justiça, quatro ainda não haviam sido cumpridos, nesta sexta. Os foragidos seriam os gestores das empresas, incluindo o possível líder do esquema.
De acordo com a investigação, o IGPN recebia os recursos da Prefeitura de Ipojuca e, por não ter condições de cumprir com os serviços, delegava funções para que as demais investigadas realizassem cursos.
“A Rede Vhida e essa faculdade foram investigadas e nas diligências verificamos que os eventuais cursos que foram pagos pela prefeitura, não eram realizados. Quando eram, eram superfaturados”, detalhou Ney Luiz.
Ainda conforme o delegado, o grupo criminoso aproveitava CNPJs de associações antigas, já consolidadas, para passar credibilidade. “O IGPN pegou um CNPJ de uma associação mais antiga, que funcionava em Jaboatão. Essa associação foi transferida para Barreiros e passou a receber recursos de Ipojuca através de um Termo de Fomento”, disse Ney Luiz.
Na ação, foram empregados 100 policiais civis, entre delegados, agentes e escrivães.
A operação está vinculada à Diretoria Integrada Metropolitana (DIM). Já as investigações foram realizadas em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público (GAECO/MPPE) e assessoradas pela Diretoria de Inteligência da Polícia Civil de Pernambuco (DINTEL).