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Suspeito de matar jovem em motel no Grande Recife usou dinheiro da vítima para pagar pernoite

Jovem foi encontrada morta em motel, com sinais de esganadura e de violência sexual, na manhã de terça-feira (23). O Diario de Pernambuco teve acesso ao inquérito que apura o feminicídio

Por Felipe Resk

Júlia trabalhava como manicure e morava em Olinda. Ela foi encontrada morta em um motel

Djalma Diego Oliveira Deodato, de 25 anos, que está preso preventivamente pelo assassinato da manicure Júlia Ramilly Duarte, de 20, estava com uma moto alugada e usou dinheiro da própria vítima para pagar o quarto de motel em Paulista, no Grande Recife.

A jovem foi encontrada morta, com sinais de esganadura e de violência sexual, na manhã de terça-feira (23). O Diario de Pernambuco teve acesso ao inquérito que apura o feminicídio.

Segundo a investigação, Djalma e Júlia foram juntos ao motel, onde deram entrada de madrugada, por volta das 4h. Pouco mais de três horas depois, às 7h08, o suspeito foi à portaria, pagou R$ 60 pelo quarto e deixou o estabelecimento sozinho.

À Polícia Civil, funcionários relataram que o suspeito chegou a avisar que ainda havia uma pessoa no cômodo, mas precisava dar uma saída e ainda voltaria para o motel – o que não aconteceu.

“Djalma não estava nervoso, permaneceu muito calmo e a declarante não suspeitou de nada”, registra o depoimento uma camareira.

Em interrogatório, o suspeito admitiu que pegou R$ 30 da bolsa da vítima e completou o pagamento com Pix, realizado no seu próprio nome. Ele alegou, no entanto, que “não se recorda de ter matado Júlia”. Também não soube descrever o que aconteceu no quarto.

Feminicídio

O corpo de Júlia foi encontrado pela camareira na suíte de número 6. Funcionária do estabelecimento há dois anos, ela é responsável por ir de quarto em quarto para avisar que a pernoite acabou.

Como ninguém respondia às batidas, a camareira decidiu abrir a porta da suíte. De acordo com o depoimento, o cadáver estava em cima da cama, coberto por um lençol e com um travesseiro em cima. Havia marcas de sangue no local.

A camareira ainda tocou no pé da mulher e começou a chamá-la, sem sucesso. A funcionária, então, decidiu avisar o chefe. “Essa mulher está morta”, teria dito ele, após também tentar interagir. Foi quando os dois acionaram a Polícia Militar (PM).

Investigadores apontam que o corpo apresentava marcas de luta corporal. “A vítima perdeu algumas unhas postiças durante o confronto e veio a falecer por conta da asfixia. O corpo apresentava um corte nos lábios e sinais claros de esganadura”, disse o perito criminal Victor Sá Leitão.

Câmeras de segurança também registraram a entrada e saída de Djalma no estabelecimento. Após levantar a placa da moto, os policiais foram até o endereço do proprietário do veículo.

Tratava-se de um homem de 40 anos que, entretanto, disse ter alugado a moto para Djalma desde o dia 18 de julho. O suspeito pagava R$ 250 por semana para usar o veículo.

O homem também contou que havia rastreador instalado na moto. Com auxílio do equipamento, os policiais conseguiram localizar e deter o suspeito.

Interrogatório

Na delegacia, Djalma disse ser “viciado em drogas” e relatou que havia saído naquela madrugada, por volta das 2h, para comprar cocaína em Pau Amarelo, em Paulista. Ele teria encontrado com Júlia nesse local, de acordo com o interrogatório.

No depoimento, o suspeito afirmou que os dois teriam consumido droga juntos e decidido ir depois ao motel. Ele declarou que nem sequer sabia informar o nome da jovem.

Ao chegarem ao motel, a cocaína já havia acabado e os dois teriam dividido um rivotril, segundo Djalma. “O interrogado se recorda que deitaram de ‘conchinha’ para dormir e, quando acordou, ela estava toda ensanguentada sobre ele”, registra o depoimento.

“O interrogado ficou assustado com a situação, cobriu ela com um lençol, se limpou e foi embora”, diz. O suspeito declarou que não brigou com a jovem. Questionado, também respondeu que não chamou a polícia porque “foi dormir drogado e acordou drogado”.

“O interrogado chegou em casa, trocou de roupa e foi trabalhar”, relata. Segundo depôs, ele estaria no décimo período de Engenharia Elétrica e era seu primeiro dia como funcionário da Prefeitura de Paulista. A gestão nega que o tenha contratado.

O depoimento de Djalma foi prestado na presença de um advogado. O defensor, no entanto, decidiu deixar o caso nesta quarta-feira (24).

Família

Familiares e amigos contestam a versão do suspeito. Segundo uma amiga, ela e Júlia estavam em uma festa, em Pau Amarelo, e decidiram ir embora por volta das 4h.

As duas chamaram corridas por aplicativo. A amiga seguiu primeiro e, ao chegar em casa, tentou contato com Júlia, que não atendeu o telefone. Após verificar o aplicativo, descobriu que a jovem já havia iniciado uma corrida, mas não chegou ao destino.

Julia morava em Rio Doce, em Olinda, também no Grande Recife, e se apresentava no Instagram como especialista em unhas, divulgando os trabalhos que rendiam elogios de clientes.

De acordo com familiares, ela havia conquistado recentemente um emprego e fazia planos para o futuro.