Após anunciar saída, presidente da Compesa diz que concessão da empresa é o maior desafio
Alex Campos conversou com o Diario de Pernambuco neste sábado (16) sobre sua saída da Compesa, os desafios da próxima gestão e sobre a escolha do futuro diretor
Após anunciar, neste sábado (16), a saída do comando da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), para ficar perto da família, o diretor-presidente Alex Campos afirmou, em entrevista ao Diario, que o principal desafio para a próxima gestão será a concessão da empresa.
Campos destacou que embora esteja de saída, vai acompanhar de perto esse processo, já que assumirá o Conselho de Administração. Segundo ele, a decisão de deixar a companhia já vinha sendo planejada há 30 dias.
Entre os fatores elencados por Campos estão a saudade da família, que mora em Brasília, e a oferta de um cargo em uma empresa no setor privado. Na entrevista, Alex Campos afirmou que o sentimento é de missão cumprida e que o trabalho “continuará em sintonia com o que fizemos nesses últimos dois anos”.
A gestão será assumida pelo engenheiro e administrador Douglas Nóbrega, que já era diretor de Engenharia e Sustentabilidade da Compesa.
Leia a entrevista completa
O senhor participou da escolha de Douglas Nóbrega para a direção da Compesa após sua saída?
Como ela (Raquel Lyra) fez durante os dois anos da minha gestão, eu sempre fui escutado pela governadora. Ela sempre me deu o privilégio de tratar diretamente com ela sobre tudo, e ela me escutou. Ela queria entender qual era a capacidade de um dos diretores de dar continuidade ao que já estava acontecendo. Eu ofereci a ela mais de um currículo; aliás, mais de um diretor poderia ter sido presidente, não só o Douglas, mas também outros colegas que reuniam as condições necessárias.
E, como ela optou desde o início por uma gestão técnica e operacional para a Compesa, que levasse em conta a necessidade da empresa, o nome de um dos diretores ganhou destaque. O que é bom, como eu disse, é que não há sobressalto, porque é um diretor que já está na equipe, todos conhecem e respeitam. Não haverá mudança nas estratégias, na direção, na unidade ou na sintonia do que está acontecendo.
Então, ela acabou, por assim dizer, prestigiando a continuidade do trabalho.
Quais serão os desafios que ele irá encontrar agora nesse próximo biênio?
Os desafios da Compesa são, eu diria, intuitivos. Temos o desafio da manutenção dos serviços, pois somos uma empresa prestadora de serviços.
A manutenção do ritmo de investimentos é algo muito confortável para ele, porque ele já era o diretor de engenharia e sustentabilidade da Compesa. Em suas mãos está um portfólio de mais de R$ 1 bilhão em obras, ele comanda isso como engenheiro. Então, não será difícil, porque ele já comanda essa parte.
Não há dúvidas de que o maior desafio desse time, e eu como presidente do conselho estarei nessa missão também, é a transição da Compesa, que hoje presta a integralidade dos serviços de saneamento, para a nova Compesa, que surgirá, seguramente, a partir de fevereiro com a concessão.
Porque aí nós dividiremos nossa atividade: a Compesa ficará com a parte de produção e tratamento de água, e as novas empresas concessionárias ficarão com a parte de distribuição, coleta e tratamento de esgoto. Essa transição corporativa, institucional e esse novo desenho administrativo são um desafio gigante para a empresa. Mas a Compesa continua sendo uma empresa estatal, por decisão da governadora, e não haverá demissões, é um compromisso público assumido.
Então, na verdade, será reestruturar a empresa para a nova Compesa, a Compesa que nasce a partir da concessão.
A concessão da Companhia é rejeitada por alguns grupos. Há uma grande oposição à concessão?
É difícil estabelecer uma grande oposição, vou te explicar por quê.
Houve uma votação, porque essa concessão foi autorizada por um comitê de municípios e estados. Duas grandes microrregiões foram formadas para escolher o futuro da concessão de Pernambuco, e isso foi decidido por voto dos municípios e do Estado.
As votações foram alcançadas por votos de ampla maioria, cerca de 70% em cada uma das microrregiões. Na verdade, a grande maioria estava a favor da concessão. Agora, houve oposição de alguns atores políticos e alguma discussão. Eu acho que houve uma parte ideológica nisso, que eu também respeito, contra processos de participação da iniciativa privada na concessão.
Mas, fora isso, do ponto de vista orgânico, os municípios, que são os verdadeiros destinatários da concessão, e o Estado de Pernambuco, que é o promotor, tiveram uma performance de maioria superior a 70%.
Eu acho que faz parte do debate público. É uma grande operação, uma grande medida, um rearranjo. É natural que houvesse dúvidas e oposições, mas o processo segue com muita consistência técnica, e se ele for adiante, como irá, será por isso: por consistência técnica e por apoio institucional.
Em relação a sua gestão na Compesa. O que você marca de feitos importantes alcançados nesses dois anos à frente da Companhia?
A retomada dos investimentos, que tem a nota da governadora, mas também tem a reorganização de projetos, retomar obras paralisadas. Outra ação crucial foi a implementação da Tarifa Social Pernambucana, que incluiu 25% dos nossos clientes — cerca de 500 mil famílias — nesse benefício. Isso foi um marco importante, pois gera um impacto social gigante, já que essas pessoas agora pagam metade do valor da conta de água e esgoto.
Eu destacaria ainda todo o nosso trabalho de colaboração no processo de concessão. A empresa foi uma grande produtora de informações para que esse modelo fosse estruturado, e eu vejo esse ponto como algo de grande relevância.
Além disso, ressalto a atuação em curso com a BRK, que é uma das primeiras PPPs do Brasil. Quando cheguei, havia um ambiente de conflito entre a BRK, a empresa parceira, e a Compesa.
Conseguimos estabelecer uma trajetória de repactuação, que permitiu a retomada dos investimentos. Como marco dessa repactuação, destaco o pleno funcionamento da Estação de Tratamento de Esgoto do Cabanga, que não operava dentro dos padrões de qualidade. Hoje, deixamos de jogar aproximadamente 2 toneladas por dia de matéria orgânica no estuário do Pina, o que representa uma entrega ambiental sem precedentes.
Portanto, eu resumiria as principais realizações nesses itens: a retomada dos investimentos em obras paralisadas, a reorganização financeira da empresa e a implantação da tarifa social pernambucana durante a minha gestão.
Como foi esse planejamento de sua saída da Compesa? E qual será o foco do seu trabalho como Presidente do Conselho?
Eu fico até 30 de agosto. Não há, não há sobressalto, porque a governadora escolheu um dos diretores, numa prova de que o trabalho que foi feito, ela aprova, acredita e confia.
Então, está sendo deslocado um diretor que eu trouxe da Chesf, um engenheiro muito experiente e competente que conseguimos tirar da Chesf na época em que eu vim. E ele vai continuar como presidente. A transição, eu diria, é quase que protocolar, certo? Porque ele já está dentro da empresa, então não vamos ter essa dificuldade.
E veja, meu papel como presidente do conselho será supervisionar os núcleos estratégicos da empresa: o plano de investimentos, já que ficou a cargo da Compesa um conjunto de investimentos gigantes no governo, como a construção de adutoras, a adutora do Agreste e um programa gigante de estações de tratamento de água que estamos implementando.
Então, o acompanhamento do plano de investimentos, que eu acho importante, e também a supervisão do processo de transição da nova Compesa, quando vier a concessão. Eu acho que esses dois núcleos vão marcar o meu trabalho como presidente do conselho.