Em Pernambuco, Lula convoca campanha nacional de combate à violência contra a mulher
Durante discursos em agendas no estado, Lula falou dos casos recentes de feminicídio no país, como o da mulher Isabele Macedo, que foi morta pelo companheiro junto com seus quatro filhos na comunidade Icauã, no Recife
Saindo do script político, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez um discurso passional e emocionado, nesta rerça-feira (2), durante suas agendas em Pernambuco, chamando a população para uma campanha contra a violência contra as mulheres. O presidente repercutiu em suas falas casos recentes de feminicídio no país, como o da mulher Isabele Macedo, que foi morta pelo companheiro, o eletricista Aguinaldo Alves, junto com seus quatro filhos, na comunidade Icauã, no Recife. Ela foi trancada dentro de casa com as crianças e Guel incendiou o barraco onde moravam.
“É a primeira vez na história deste país, ou talvez do mundo, que o presidente da República vai assumir uma campanha junto com todos os homens de caráter para que ninguém faça violência contra as mulheres nesse país. Ninguém”, disparou o presidente durante a entrega da Barragem de Panelas II, em Cupira.
Lula disse ter sido abordado pela esposa, a primeira-dama Janja da Silva, no avião, a caminho de Pernambuco, que teria se emocionado com os casos recentes de violência violência brutal contra a mulher e contra crianças em vários estados do Brasil. “Essa semana, domingo à noite, a Janja estava chorando por causa de uma matéria no jornal. Um canalha que atropelou a mulher, a arrastou e a mulher perdeu duas pernas. Depois ela estava chorando porque no dia seguinte, no Recife, outro cidadão trancou a mulher grávida dentro de casa com três filhos e ateou fogo na casa e matou todos. E depois ela estava chorando porque viu um outro cara pegar duas pistolas e matar a mulher dele. Hoje então eu fico me perguntando que mundo é esse? Que mundo é esse?”, indagou.
“Se o cara tiver dinheiro, como o que deu 60 socos na cara da mulher no elevador, fica só dois anos preso. E um cara que rouba um pão, não tem advogado, fica na cadeia”, complementou. O presidente ainda questionou as leis em vigor no país: “O Código Penal Brasileiro (1940), tem pena para fazer justiça a um animal irracional como esse?”.
Para Lula, “não existe pena para punir um cara desses”. “Que pena merece o cara que deu 60 socos na cara da mulher? Ele passou anos fazendo musculação, ficou todo bombado, para fazer isso? Era melhor nascer sem braço. Qual é a pena de um cara que descarrega duas pistolas na mulher? Qual é a pena do cidadão que tranca a mulher dedicada e toca fogo?”, perguntava à platéia, indignado.
O presidente também falou sobre violência contra crianças e abordou o caso de um homem que espancou e violentou uma criança de 2 anos. “O cara machucou a criança, Que pena merece? Até a morte é suave. Nós precisamos é de lição de caráter e de respeito às nossas companheiras. Se não fossem elas, a gente não existiria”, pontuou.
Campanha nacional
Lula fez o chamamento aos homens presentes na agenda em prol da campanha contra a violência de mulheres e crianças. “Não é possível que a gente não tenha sido educado para não ser violento. Se você vai morar com alguém, por que violentar esse alguém? Por que bater? Então eu queria convidar vocês homens a fazer uma campanha com isso. Eu queria convocar vocês. Quem tiver disposição para participar dessa campanha em defesa da dignidade do respeito às mulheres, levanta a mão aqui para a gente mostrar na fotografia. Aliás, eu vou dizer: ‘Para mim, quem bater na mulher não precisa votar em mim. É isso. Quem for violento contra a mulher não precisa votar em mim’”, afirmou o presidente.
Dona Lindu
O presidente também citou durante o discurso que sua mãe, Dona Lindu, mesmo sem saber ler e escrever, “deixou importantes lições na sua educação”.
"Minha mãe dizia que, se fosse para bater em mulher, seria melhor que o braço caísse. Homem não nasceu para bater em mulher nem estuprar criança. Quem estiver comigo nessa luta levante a mão. Vamos fazer uma campanha forte. Essa luta não é das mulheres, é dos homens", chamou o presidente.
“Sempre dizia assim: ‘Se casar e não estiver bem com ela, se separe, mas nunca levante a mão para bater na sua mulher’. ‘Meu filho, se você brigar com a mulher, nunca levanta a mão para ela, vai embora de casa. Se você não gostar mais dela, vai embora de casa. Se ela não gostar de você, deixa ela ir embora, porque ninguém é obrigado a morar com ninguém se não quiser morar’”, contou o presidente, citando as palavras da mãe.