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Brasília Teimosa se prepara para Lula

Recém-eleito para o primeiro mandato, presidente esteve no local em 2003, quando a comunidade era formada por quase 600 palafitas

Por Marília Parente

Há 22 anos, presidente Lula garantiu urbanização da localidade durante a visita

Quantos brasileiros podem dizer que devem uma promessa a um político? Aos 58 anos de idade, a socióloga Tânia Cristina Ribeiro brinca que se prepara para a possibilidade de pagar uma cerveja para o presidente Lula. No dia 10 de janeiro de 2003, durante a primeira visita do chefe de estado a Brasília Teimosa, um vizinho descrente da exequibilidade do projeto de urbanização do local, apostou uma grade de cerveja na tese de que o mandatário, à época recém-eleito para seu primeiro mandato, não concretizaria a retirada das 580 palafitas existentes no bairro. “Lula disse que eu podia apostar e que ele iria ‘tomar uma’ com a gente”, lembra Tânia.

Vinte e dois anos depois, a Brasília Teimosa que se prepara para receber o ato político de Lula, marcado para acontecer às 17h de hoje, é um bairro bem diferente daquele que o presidente conheceu na primeira visita. No lugar das antigas palafitas, uma orla com ciclofaixa, posto de bombeiros, quadras esportivas e vias públicas asfaltadas ajuda a explicar a popularidade do presidente no local.

“Meu vizinho disse que era ‘balela’, que ninguém nunca faria nada por Brasília Teimosa. Eu sabia que seria diferente, porque Lula é da classe trabalhadora. Sentimos na pele a diferença dos outros governos para o dele”, acrescenta Tânia.

Militante da juventude católica nos anos 1980, ela foi uma das fundadoras da Comissão de Palafitas do bairro, uma das articulações sociais que receberam o presidente em sua primeira visita. “A única coisa que falta é o título de posse. Pegaram meus documentos. Talvez já receba o meu na cerimônia”, celebra.

URBANIZAÇÃO


No evento de hoje, o presidente entregará 599 títulos de regularização fundiária de interesse social, em parceria com a Prefeitura do Recife. A ação integra o Programa Imóvel da Gente, política pública de regularização fundiária promovida pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI).

A entrega é a culminância de uma luta tão antiga quanto a comunidade, iniciada com uma ocupação de pescadores nos anos 1950. Na época, esses trabalhadores precisavam reconstruir suas casas diariamente, após sucessivas demolições praticadas pelo governo estadual, que desejava instalar um depósito de inflamáveis na área. A urbanização definitiva só aconteceu a partir de 2003, quando os moradores das palafitas passaram a ser realocados para um conjunto habitacional no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste.

“Recebi auxílio moradia por um tempo, tudo direitinho. Depois ganhei meu apartamento”, afirma o autônomo Josafá Rodrigues da Silva, que morava em uma palafita em Brasília Teimosa. Ele confessa que sente saudades da proximidade do mar, mas reconhece que a vida mudou para melhor com os investimentos em infraestrutura urbana no bairro.