Legado vivo: as heranças políticas deixadas por Arraes e Eduardo
Na data de 13 de agosto, Pernambuco perdeu dois de seus grandes políticos: os ex-governadores Miguel Arraes e Eduardo Campos
Na data de 13 de agosto, Pernambuco perdeu dois de seus grandes políticos: os ex-governadores Miguel Arraes e Eduardo Campos. Hoje, 20 anos depois da morte do avô, o Diario de Pernambuco conversa com alguns dos seus herdeiros para falar sobre como esse legado permanece atual: o bisneto João Campos e as netas Marília e Maria Arraes.
Um mesmo objetivo por caminhos diferentes
“O legado de Dr. Arraes é contemporâneo. Desde o início da sua vida na política até o fim da sua vida, ele se preocupou em combater as desigualdades e a injustiça social. Essas questões continuam necessárias até hoje. O que mudou foi a forma de fazer”. E dessa forma que o bisneto e, hoje, prefeito do Recife, João Campos (PSB), fala do que representa a trajetória do ex-governador de Pernambuco, Miguel Arraes, nesses 20 anos da sua morte.
João deixa claro que a inspiração é constante e que ele a carga junto com a do seu pai, o também ex-governador Eduardo Campos. “Os dois sempre carregaram a preocupação em fazer por quem mais precisa. Se Dr. Arraes criou o Chapéu de Palha, voltado os trabalhadores da cana, hoje, nós oferecemos cursos e programas que também oferecem oportunidades para todos”, reforça o prefeito.
“Quando expandimos a educação em tempo integral e dobramos o número de vagas nas creches, também permitimos que as mães possam trabalhar tranquilas e ter sua própria renda”, avalia. Ainda atualizando as iniciativas para os dias atuais, o atual presidente nacional do PSB, cargo que também foi ocupado pelo pai e pelo bisavô, lembra do Movimento de Cultura Popular, criado quando Arraes é que era o prefeito do Recife, na década de 1960, que tinha o objetivo de combater o analfabetismo e a exclusão por meio da educação, “Hoje, temos a preocupação de garantir aos estudantes programas como o Embarque Digital, que abre as portas em empresas multinacionais”, ressalta o prefeito.
Inspiração em ideais rege atuação política
Marília Arraes e Maria Arraes, netas de Miguel Arraes, afirmam ter os ideais do avô como inspiração para suas atuações políticas. Justiça social, defesa da democracia e da soberania nacional, educação e inclusão social são conceitos citados como um norte para as futuras gerações e para a política brasileira, especialmente na atualidade.
Marília Arraes cita programas como o Chapéu de Palha, o Luz para Todos e o Movimento de Cultura Popular como inspirações perenes, inclusive para os programas sociais contemporâneos. “O Chapéu de Palha equivalia, naquela época, ao Bolsa Família de hoje; o programa de eletrificação rural e o MCP [Movimento de Cultura Popular] foram ações inéditas no país e vistas como exemplo até hoje”, afirma.
O poder de articulação política do avô foi destacado por Maria Arraes como uma habilidade até então impensável para aquela época. “Quando a gente diz que ele reunia antagônicos, a gente fala em todos os aspectos: ideológicos, políticos, sociais. Porque ele conseguia perceber o que os diferentes tinham de igual. Colocar usineiros e camponeses na mesma mesa foi o maior exemplo”, diz.
Para ambas, a defesa da democracia e da participação popular foi outro traço marcante da forma de fazer política de Miguel Arraes. “Ele era união, era resistência, era soberania nacional. Ele era um nacionalista e, então, um defensor da democracia. Figuras como ele, que hoje mostram essa resistência, precisam ser lembradas”, reforça Maria.
Citando o livro “O Brasil, o Povo e o Poder”, escrito por Arraes no exílio, Marília Arraes destaca a leitura que o avô tinha da política brasileira. “No livro, que é atual até hoje, Arraes diz que a política é cíclica. Então, quando a gente vê o que está acontecendo hoje, a gente vê a repetição do modus operandi, né? Na ditadura militar ou no movimento integralista. Arraes dizia que a dominação estrangeira só existia porque tinha uma elite aqui dentro que escancarava a porta para que os de fora entrassem”, compara.
No Diario, os traços da história
Desde o início da trajetória política de Miguel Arraes, quando foi eleito deputado estadual em 1954, o Diario de Pernambuco sempre acompanhou seus passos. Mas alguns dos registros marcantes dessa história, provavelmente, tenha origem nos traços dos cartunistas do jornal.
“Muita gente jovem conhecou mais Dr. Arraes pelas charges do que por fotos. Laílson e Clériston eram dois dos chargistas que se destacavam nesse processo”, conta o ex-secretário de Imprensa durante o governo Arraes, Evaldo Costa.
Ele conta que os traços de Laílson de Holanda Cavalcanti, falecido em 2021, aos 68 anos, se transformaram em livro: o “Arraestaqui Miguel Arraes em Charges de 1979 a 2002”. O trabalho virou ainda uma exposição, realizada na Câmara dos Deputados.
Evaldo conta ainda que, na sede do PSB nacional, em Brasília - partido que foi presidido por Arraes, Eduardo e, agora, por João Campos, um totem em tamanho natural, originado em uma charge de Laílson recebe todos que entram no local.