Voo cancelado: negociações que poderiam formar maior empresa aérea do Brasil, fusão Gol e Azul é anulada
Acordo de compartilhamento de voos entre Gol e Azul também é encerrado, e governo brasileiro avalia que a decisão reflete o fortalecimento das companhias no mercado.
As negociações para a fusão entre a Gol e a Azul foram oficialmente canceladas, em um movimento que frustra a expectativa de unificação das companhias e a formação da maior empresa aérea do país. O anúncio, feito pela Gol, controlada pelo Grupo Abra, na noite de quinta-feira (25), também pôs fim ao acordo de compartilhamento de voos (codshare).
Segundo a Abra, as conversas, que haviam sido iniciadas em janeiro por meio de um Memorando de Entendimentos, não progrediram nos últimos meses. A controladora da Gol justificou que o foco da Azul em seu processo de reestruturação internacional, conhecido como Chapter 11 nos Estados Unidos, impediu discussões significativas. Embora o projeto de fusão não vá adiante neste momento, o grupo reforçou acreditar no mérito de uma futura combinação de negócios entre as duas companhias.
Dados referentes a agosto da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) mostram que a Latam lidera o mercado brasileiro, com 41,1% de participação, seguida pela Gol (30,1%) e pela Azul (28,4%). A eventual fusão entre as duas últimas poderia ter alterado significativamente esse cenário de competitividade.
Expectativas e mercado
A notícia chega após um período de incertezas e alertas. No início de setembro, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) havia se posicionado sobre os anúncios prematuros de fusões e cobrado das empresas a formalização do acordo de codeshare para análise regulatória.
O presidente do órgão, Gustavo Augusto, alertou que "você não deve anunciar uma operação de fusão, aquisição, que não está pronta e não foi apresentada às autoridades reguladoras", disse à Reuters.
Apesar do encerramento da parceria, Gol e Azul garantiram que todos os bilhetes já emitidos sob o acordo de codeshare serão honrados. A interrupção do processo acontece em um momento de recuperação para ambas as empresas.
Benefícios
O projeto previa participação igualitária, com a Gol como menor acionária e gestão compartilhada. No segundo trimestre, a Azul fechou com R$ 1,29 bi em lucro líquido, enquanto a Gol obteve prejuízo de R$ 1, 5 bi, embora tenha reduzido as perdas em relação à 2024 e saído da recuperação judicial em junho.
A Azul, que entrou em recuperação judicial em maio nos Estados Unidos, pretende finalizar o processo ainda neste ano, e chegou inclusive a apresentar um plano de recuperação para a justiça estadunidense, que prevê eliminação de US$ 2 bilhões em dívidas.
Assim, segundo informações da Abra, um representante da Azul chegou a declarar que as tratativas começaram "em outro cenário e em outro momento das empresas, que não é mais o mesmo".
Visão governamental
Em nota, o Ministério de Portos e Aeroportos declarou que acompanha a decisão das empresas. A pasta avalia que o fim das negociações é "fruto do fortalecimento das companhias aéreas e do crescimento da aviação no Brasil", destacando a conclusão da reestruturação da Gol e a fase de reorganização da Azul.
O governo enfatizou que, com a decisão, o país continuará a contar com três grandes companhias aéreas — Gol, Azul e Latam —, o que "garante competitividade e mais opções para os passageiros". A nota ministerial conclui que o setor aéreo brasileiro segue em expansão, com um crescimento na demanda por voos domésticos e internacionais.