Brasil alinhado com China
O investimento chinês no Brasil registrou forte crescimento em 2024, alcançando US$ 4,18 bilhões, um avanço de 113% em relação a 2023
O Brasil está se alinhando mais com investimentos da China ao invés dos EUA? O investimento chinês no Brasil registrou forte crescimento em 2024, alcançando US$ 4,18 bilhões, um avanço de 113% em relação a 2023. Esse foi o maior montante desde 2021, quando os aportes somaram US$ 5,9 bilhões, impulsionados por grandes projetos de exploração de petróleo e pela retomada de atividades após o período mais intenso da pandemia.
Os dados divulgados pelo Centro Empresarial Brasil-China (CEBC) mostram uma aceleração significativa no fluxo de capitais vindo do país asiático, onde em 2023, a alta já havia sido de 33% frente a 2022.
O estudo indica que essa presença não se explica apenas pela boa relação política entre os dois países, mas principalmente pela combinação de oportunidades de negócio e ambiente considerado seguro para investir.
O CEBC registra os aportes de empresas com sede na China e acompanha o que de fato sai do papel, o que ajuda a explicar porque seus números são bem maiores que os do Banco Central, que contabilizou apenas US$ 306 milhões em 2024. Desde 2010, com essa metodologia, já foram mais de US$ 13 bilhões investidos no Brasil.
Quando se olha o cenário internacional, o Brasil aparece em destaque. Enquanto os EUA viram uma queda de 11% dos aportes chineses em 2024, a América Latina (excluindo o Brasil) teve recuo de 8,4%. Reino Unido liderou como principal destino dos recursos, com US$ 4,6 bilhões, de acordo com o China Global Investment Tracker (Cgit).
O Brasil apareceu na 6ª posição, com US$ 3,21 bilhões, mas o valor é menor do que o apontado pelo Centro Empresarial Brasil-China (CEBC), já que o Cgit considera apenas projetos acima de US$ 100 milhões.
Entre os setores mais procurados, energia elétrica puxou a fila, recebendo US$ 1,43 bilhão, o que representa quase um terço do total investido. A maior parte foi para projetos de energias eólica e solar, áreas em que os chineses já têm tradição de atuação no país.
Outro destaque foi a indústria automotiva, que recebeu US$ 575 milhões, praticamente o mesmo volume do ano anterior, mas que reforça a continuidade do interesse nesse segmento.
Ao observar os dados do Banco Central para a entrada de Investimento Estrangeiro Direto no Brasil em 2024, os EUA mantêm uma liderança distante na frente da China, cerca de 5 vezes maior somente em 2024. Uma possível escala retaliatória do Brasil contra o tarifaço americano pode fazer com que o Investimento Estrangeiro Direto de lá para cá seja redirecionado, por forças políticas, apesar da longa tradição de investimentos americanos no país.
O crescimento expressivo dos investimentos chineses no Brasil mostra uma mudança relevante no direcionamento do capital chinês. Esse reposicionamento tem implicações estratégicas: reforça o peso do Brasil como parceiro preferencial da China na região, aumenta sua capacidade de atrair investimentos em setores como energia e indústria e fortalece sua inserção internacional em um cenário de disputa geopolítica entre EUA e China.
Em termos práticos, significa que o Brasil passa a ocupar um espaço mais relevante nas estratégias de diversificação da China, ao mesmo tempo em que se distancia dos EUA, sinalizando um reposicionamento, também, na política externa brasileira.