Acervo
INSTITUIÇÃO CENTENÁRIA
Academia Pernambucana de Letras abre série "Instituições Centenárias de PE"
A APL, que comemorou 124 anos neste domingo (26), é a primeira de muitas entidades que estão cravadas na história do Estado nas mais diversas áreas, por mais de um século, e serão resgatadas pelo Diario de Pernambuco
Publicado: 27/01/2025 às 05:33

Após 65 anos morando de favor no Instituto Arqueológico, a Academia Pernambucana de Letras adquiriu uma casa própria em 1966/Foto: Arquivo/DP
A Academia Pernambucana de Letras (APL), fundada em 26 de janeiro de 1901, completou neste domingo (26) 124 anos de história. Considerada uma das instituições literárias mais antigas e prestigiadas do Brasil, a APL se consolidou como um dos maiores patrimônios culturais de Pernambuco.
O Diario de Pernambuco iniciou uma série de reportagens destacando as instituições centenárias do Estado, e, neste contexto, a Academia se apresenta como um exemplo notável da resistência cultural e trajetória marcada por desafios e reestruturações.
Criação e desafios
A fundação da Academia Pernambucana de Letras começou pelo desejo de um grupo de intelectuais de Pernambuco de organizar e consolidar o panorama literário do Estado. Entre os fundadores, destaca-se Carneiro Vilela, que liderou a iniciativa ao lado de outros 19 escritores pernambucanos. A ideia era criar um espaço que reunisse os maiores nomes da literatura local e nacional, e que fosse um símbolo de fortalecimento da produção intelectual de Pernambuco.

Logo após a sua fundação, a APL passou a funcionar no prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP), localizado na Praça da Concórdia, no Recife. Porém, logo a Academia enfrentaria uma série de crises que colocaram sua continuidade em risco. Em 1910, a Academia sofreu a demolição da sua sede, o que, juntamente com uma crise política interna e a morte de importantes membros fundadores, como Carneiro Vilela, levou a uma grande desorganização.
A situação se agravou nos anos seguintes, com a cisão interna que resultou em uma divisão entre os membros da Academia. Em 1911, o conflito entre os acadêmicos Rosa e Silva e Dantas Barreto agravou ainda mais a crise, e, por um tempo, a APL ficou à beira de desaparecer.
Reorganização e consolidação
Apesar dos obstáculos, a Academia se reorganizou no início da década de 1920. Durante essa fase, o número de cadeiras foi aumentado para 30, uma proposta de Mário Melo que visava garantir maior diversidade e representatividade para a instituição. No entanto, a estabilidade da Academia só viria mais tarde, com a proposta de Mauro Mota em 1960 de ampliar ainda mais a APL, fixando o número de cadeiras em 40, como permanece até hoje.
Um dos maiores marcos na história da APL ocorreu em 1966, quando a instituição finalmente conquistou uma sede definitiva. O solar neoclássico situado na Avenida Rui Barbosa, no bairro das Graças, no Recife, pertencente ao Barão Rodrigues Mendes, foi desapropriado pelo governo estadual e, em 1973, foi doado oficialmente à Academia, garantindo-lhe uma casa própria para abrigar suas atividades culturais e intelectuais.

Antes dessa conquista, a Academia passou por diversas sedes temporárias. Em 1920, a instituição realizou uma sessão de reorganização no prédio da antiga Associação dos Empregados no Comércio, na Rua da Imperatriz. Já em 1969, a APL foi transferida para o Palácio da Justiça, no centro do Recife, um edifício imponente que, embora tenha garantido maior visibilidade à instituição, não representava uma solução definitiva.
Missão e objetivo
Ao longo dos anos, a Academia se tornou uma plataforma ativa para a produção e a reflexão literária. Além de preservar a história da literatura pernambucana, a Academia organiza eventos literários, lançamentos de livros, palestras e encontros com escritores, e promove debates sobre questões culturais, sociais e políticas que envolvem o estado.
Com o passar do tempo, a APL consolidou-se como uma referência no cenário literário nacional, sendo formada por 40 cadeiras ocupadas por escritores e intelectuais de renome. Entre seus membros mais ilustres, estão nomes como Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Carlos Pena Filho, Diógenes da Cunha Lima, entre outros.
Adaptação

A instituição tem incorporado as novas tecnologias, promovendo eventos virtuais e incentivando a literatura digital. Essa adaptação tem garantido à APL uma maior visibilidade e acesso a um público mais amplo, incluindo as novas gerações de escritores e leitores. Além disso, a instituição continua a ser um espaço de reflexão e de diálogo sobre as questões sociais, culturais e políticas do estado.
O museu
A história da Academia Pernambucana de Letras é também preservada no Museu da APL, instalado no Solar de Ponte d’Uchôa, no mesmo endereço da sede da instituição. O casarão neoclássico é, atualmente, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
O museu abriga um acervo rico que resgata a trajetória da instituição e de seus membros desde sua fundação em 1901, tornando-se um importante ponto de reflexão sobre a literatura pernambucana e a contribuição da APL para a cultura de Pernambuco.