Como ficará o EAD?

Janaína Spolidório
Designer de atividades pedagógicas, formada em Letras, com pós-graduação em consciência fonológica e tecnologias aplicadas à educação e MBA em Marketing Digital

Publicado em: 24/01/2019 03:00 Atualizado em: 24/01/2019 08:53

Estamos em um momento político que promete uma grande mudança de paradigma em muitos sentidos. Um deles, e motivo deste artigo, é a ampliação do uso de EAD (ensino à distância) nas escolas, conforme proposta de nosso presidente.

Certamente o ensino à distância tem seus prós e contras, como tudo, mas o mais importante é ter consciência de quais são os pontos negativos e positivos antes mesmo de pensar em sua implantação.  É importante considerar a proposta inicial sobre o assunto.

De acordo com o discurso sobre o ensino à distância, a proposta é a implantação do mesmo tanto no Ensino Médio quanto no Ensino Fundamental, “disseram que ajuda a combater o marxismo. Você pode baratear. E nesse dia talvez seja integral”, conforme as próprias palavras de Bolsonaro. Há ainda a fala sobre a possibilidade de próprio familiar alfabetizar seu filho.

O Ensino Médio é um período difícil na educação brasileira, pois é quando há maior evasão de alunos. Grande parte dos alunos que chegam ao Ensino Médio já sofreram grandes fracassos em sua vida escolar e não conseguem compreender a importância de dar continuidade ao ensino.

A opção de ensino à distância, nesta fase, pode ter benefícios, pois a mudança de tipo de ensino, ainda que em uma porcentagem pequena de tempo do currículo, e em matérias correspondentes ao currículo flexível, conforme proposta, proporciona uma maior flexibilidade em relação ao tempo e à logística do aluno. Além disso, pode reduzir o custo de investimento, possibilitando que esta verba seja investida em outras questões da área e promove ainda um acessibilidade flexível interessante para o aluno e também para o professor.

Todos estes itens parecem ótimos, mas não se engane! Embora tenha suas vantagens, é preciso que haja uma infraestrutura que provavelmente muitas localidades e até famílias não possuem. Nesse ponto, o barato pode  sair caro, pois além do investimento tecnológico, ainda necessita de qualidade nos profissionais que irão atender os alunos, bom conhecimento e domínio desta modalidade de ensino e um material extremamente visual e de muito melhor compreensão do que o produzido para uso em aula regular, na qual o professor consegue ter uma intervenção mais próxima.

Outro ponto a se considerar é que nem todos os alunos de Ensino Médio têm a maturidade necessária para este tipo de estudo mais autônomo, mesmo que acompanhados de um professor na tela do programa.

Se não há maturidade no Médio, imagine a implantação de algo assim no Ensino Fundamental, que é uma fase obrigatória. Os alunos estão ainda construindo a autonomia e uma proposta de ensino à distância deveria ser bem dosada. Talvez uma vez por quinzena para uma lição extra curricular à distância, para que o aluno aprenda estratégias próprias desta forma de estudo e, com o tempo, chegue ao Ensino Médio preparado para ter uma pequena parcela das aulas desta forma. Mas claro, depois de ter passado por um processo de aprendizagem sobre como estudar desta forma, tudo bem articulado e estruturado.

Quanto à possibilidade de evitar o marxismo, educar, seja de qualquer forma, é um ato político. A escola deve ser neutra, muitos profissionais acabem colocando suas opiniões durante as aulas e realmente isso não é correto. As crianças não devem ser influenciadas desta forma. Elas estão na escola para aprender conhecimentos, desenvolver habilidades e aprender a pensarem de modo autônomo, não de acordo com os adultos que as orientam. A solução para a influência política, religiosa ou qualquer que seja está na formação dos profissionais, em fazê-los entender que este não é o papel deles enquanto bons educadores.

Claro que há muito mais a se considerar. Áreas remotas, falta de tecnologia no país, em geral, necessidade de formação diferenciada do professor entre outras coisas. Talvez seja sim algo a se considerar como recurso, mas a longo prazo e somente com outras mudanças anteriores e mais importantes no momento educacional do Brasil.

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