Poder da mídia

Nagib Jorge Neto
Jornalista e escritor

Publicado em: 25/09/2018 03:00 Atualizado em: 25/09/2018 05:37

As informações dos meios de comunicação, da mídia impressa e eletrônica, quase sempre contam com a confiança da maioria da opinião pública. Ela tende a fazer uma leitura linear da informação, sem questionamento, crédula, e assim aceita como verdade a versão do fato, seja diante de um dado novo sobre um episódio conhecido, seja porque surgiu outro sobre o qual nada sabia. Esse realidade reflete a necessidade de mudanças, de sorte que os profissionais, as empresas, atuem dentro dos limites do poder que detém e dos riscos e conseqüências do seu exercício. A questão não é só da nossa mídia, mas da área de comunicação em quase todos os países.

A Era da Informação, que gerou tantas esperanças, não pode ser vista como formada por empresas e profissionais infalíveis, juízes de todo mundo. A mídia também deve ter limites, normas, pois do contrário a sociedade, o público, fica sem condições de influir no processo democrático, de enfrentar o poder dos meios de comunicação. Há necessidade, portanto, de ampliar o debate, de garantir espaços para pessoas, instituições, tendências, idéias. A existência do debate, do confronto de idéias, ajudará no exercício da liberdade de imprensa, na sua contribuição para o regime democrático, que não pode ter a mídia como dona da verdade e única força moral, transformadora.

Tal tendência é perigosa para o conjunto de uma nação, de um Estado, na medida em que a mídia atua como porta-voz da sociedade, que em sua maioria é receptora da informação, de debates com pessoas com os mesmos pontos de vista, ou seja, uma inegável censura à difusão das idéias. Além disso, temos de refletir sobre a concentração de poder na área da comunicação, hoje sob controle de sete grandes grupos com base nos Estados Unidos, Alemanha, Austrália, México e Brasil. Tais grupos influem nos governos, detém o controle de grandes corporações, que dispõem de meios e modelos para influir nas ideias e nos destinos de pessoas e nações.

Evidente que o mundo da comunicação, por seu gigantismo, vem sendo cada dia mais competitivo, sendo comum a difusão de informação que carece de confirmação, que viceja no terreno da invenção, da suposição, em que sempre tarda a autocrítica, que fica restrita ao universo das redações ou ao bar da esquina. Diante disso, nos Estados Unidos, na Europa, crescem setores organizados que buscam influir nos rumos da informação, criando espaços para questionamentos, reparos, de forma objetiva e imediata. Entre os críticos da mídia, dos seus defeitos, Noam Chomsky assegura que seu produto “é moldado para atender as necessidades de poder e dominação nos quais ela se embute, gerando o risco de transformar o público em átomos isolados de consumo, passivos e obedientes”.

Não resta dúvida, portanto, que estamos diante de um desafio e com o dever de agir para alterar os rumos da tendência da mídia. A liberdade de imprensa tem de ser defendida, assegurada, sem censura, restrições. A tarefa de todos nós deve ser garantir a liberdade de expressão, a exigência de ética, de formação profissional e normas claras de forma que o exercício do jornalismo seja um instrumento da cidadania e ajude a consolidar a democracia como forma educativa de Governo.

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