Reminiscências caruaruenses

Giovanni Mastroianni
Advogado, administrador e jornalista

Publicado em: 26/05/2018 03:00 Atualizado em: 28/05/2018 10:20

Rezam os dicionários que o verbete “bairrista” é um adjetivou ou substantivo de dois gêneros e, como tal, significa: “defensor exagerado dos interesses do bairro, ou de sua terra”. Faço questão de me inserir entre os mais ardorosos e entusiastas caruaruenses. Numa patente demonstração desse meu entusiasmo pela Capital do Agreste, veio-me à mente relembrar alguns fatos que, em minha longa caminhada, nos meios jornalísticos, registrei sobre Caruaru. Eis, pois, um resumo dessas minhas reminiscências, todas registradas em jornais, num passado que já vai distante, mas bem gravadas em minha memória e nos anais da Fundação Joaquim Nabuco, que, felizmente, guarda um acervo considerável de grandes acontecimentos de um passado remoto.

Começarei pelo Major Sinval, famoso “farmacêutico”, a quem dediquei reportagem de página inteira, ilustrada com fotografias e que, curiosamente, homenageando o protagonista, intitulei de “médico, poeta e louco”. Afamado por suas “tiradas”, extraí esta: “ Senhora, no balcão da “Pharmacia Franceza”, alegava que seu marido, padecendo de dores, passara a noite gritando,  afirmando que, por isso, há três noite, não dormia com o marido gemendo. Sinval, de pronto, indagou:  “e com quem a senhora está dormindo agora?” Também, tão popular era o médico Geminiano Campos, figura simples e querida, a quem, igualmente, homenageei com entrevista e fotos na década de 60. Confessou-me, à época, haver chegado ao final de sua vida pobre. Não poderia ser diferente, pois cobrava, apenas, cinco mil réis por uma consulta, quantia que correspondia, então, simplesmente, a dois cruzeiros novos, uma bagatela. Escrevia para os jornais citadinos com os pseudônimos de Nemo e Cato. Seus artigos eram reduzidíssimos.

O mestre Vitalino jamais poderia ser esquecido. Muitas foram as reportagens que fiz com ele, quer como o mais famoso artesão do barro, de todos os tempos, como tocador de pífano. Nesta arte não foi destaque nacional, mas surpreendia a todos por seu talento como exímio músico, integrante de afamadas bandas. Morreu cedo, vítima de varíola. Não fora sequer vacinado.

Cacho de Coco vem logo em seguida. Bezerrense de nascimento era caruaruense de coração.

A origem de seu nome vem desde pequeno, quanto costumava subir em coqueiros. Em 1914, formou uma “cambinda velha”, desfilando nas ruas, homenageando os santos. Em Caruaru, incorporou-se a vários blocos carnavalescos, até que, em 1930, resolveu fundar o seu próprio: “Sou eu teu amor”, graças à ajuda dos comerciantes da terra. Seus desfiles eram tão rápidos que, quando anunciavam: “Cacho de Coco vem aí”, seu bloco já havia passado. Desafiou correr com um trem dezenas de quilômetros e por pouco não chegou em primeiro lugar. Até técnico de futebol foi na vida, tendo dirigido, por muito tempo, o Central, embora mal sucedido.

Queria registrar detalhes de muitos e muitos temas que, hoje em dia, fazem parte do folclore da terra dos Condés, de Álavro Lins, de Austregésilo de Athayde e de outros literatos. Fica, em minha lembrança, todavia, a promessa de relembrar, futuramente, as rendeiras do Cedro, a feira do troca-troca, a Casa dos Pobres de São Francisco de Assis, os Abrigos de Menores Dom Bosco e Santa Maria Goretti, o Morro do Bom Jesus e seus “ex-votos”, o surgimento das primeiras Faculdades do interior nordestino, os bacamarteiros, os festejos juninos, os recitais de piano e as homenagens a algumas figuras ilustres que colaboraram para o desenvolvimento atual de Caruaru, a mais próspera cidade do interior pernambucano, talvez, também, nordestina.

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