Editorial Crédito e crescimento

Publicado em: 14/05/2018 09:00 Atualizado em:

O Banco Central dará um importante passo para a consolidação da retomada do crescimento nesta semana. Como já sinalizou o presidente da instituição, Ilan Goldfajn, a taxa básica de juros (Selic) será reduzida, na quarta-feira, em mais 0,25 ponto percentual, para 6,25% ao ano. Trata-se de sinal preponderante para empresas e consumidores de que não há riscos no horizonte para a inflação, mesmo com as recentes altas dos preços do petróleo e do dólar.

O BC tem feito um trabalho exemplar no controle da inflação. Não se pode esquecer que, em 2015, ainda no governo de Dilma Rousseff, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu quase 11%, devido a decisões equivocadas que geraram desconfiança por todos os lados. Agora, com uma política macroeconômica consistente, o custo de vida está no menor nível em mais de duas décadas. Como mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação acumulada no ano é de apenas 0,92%. Nos 12 meses terminados em abril, alcança 2,76%, abaixo do piso da meta, de 3%.

Ao conviver com juros tão baixos, o Brasil está dando fortes sinais de maturidade. Não há outro caminho para que as empresas possam ampliar a produção e a população, consumir mais. Ao longo das últimas décadas, o país se tornou o paraíso dos rentistas. Todos preferiam ficar dependurados nas taxas elevadíssimas de juros dos títulos públicos em vez de destinar recursos para a economia real, que gera emprego e renda. Não havia porque correr riscos ante o ganho fácil dos papéis do governo, alegavam.

É importante, porém, que a queda de juros chegue efetivamente ao setor produtivo e aos consumidores. A despeito do forte alívio promovido pelo BC, os bancos ainda resistem a cortar juros. Pelo contrário. Há levantamentos da autoridade monetária mostrando que as instituições aumentaram os encargos cobrados dos tomadores de várias linhas de crédito. Só os bancos ganham com essa política abusiva. Apenas nos três primeiros meses do ano, as quatro maiores instituições financeiras computaram lucro líquido de R$ 17,4 bilhões, aumento de 11,4% ante o mesmo período de 2017.

Aos poucos, os bancos começam a abrir a torneira de crédito. Depois de oito trimestres de retração, os empréstimos e os financiamentos feitos pelos quatro maiores bancos com ações negociadas em bolsa de valores voltaram a crescer. Mas ainda é muito pouco para que o crédito volte a ser uma importante ferramenta para puxar o crescimento econômico. Demanda não falta. Mas empresas e consumidores se intimidam na hora de fazer dívidas por causa dos juros pesadíssimos. Temem cair na inadimplência, por incapacidade de pagamento.

Num processo de recuperação da economia, todos precisam dar sua cota de contribuição. Isso vale, inclusive, para os bancos, os grandes repassadores de recursos para a atividade produtiva. Não há nada que justifique o sistema financeiro ficar abarrotado de recursos e a economia patinar por falta de crédito. Está provado na teoria econômica que os empréstimos são importantes multiplicadores. Resta, portanto, aos bancos exercerem seu papel básico: o de financiar o crescimento. Um país com mais de 13 milhões de desempregados não pode mais esperar.

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