Editorial Agredir a imprensa é agredir a democracia

Publicado em: 09/04/2018 09:00 Atualizado em:

Pelo menos 30 participantes da manifestação de apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite de quinta-feira, no centro de Brasília, tentaram agredir duas jornalistas e depredaram o carro da reportagem do Correio Braziliense. O ato público foi convocado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT-DF), logo após o anúncio da decretação da prisão do líder petista. Um fotógrafo da agência Reuters e uma equipe do SBT também foram hostilizados e ameaçados. O mesmo aconteceu no último sábado em frente ao Sindicato dos Metalúrgico do ABC, quando seis profissionais foram agredidos na cobertura da rendição do ex-presidente. Cercear o trabalho da imprensa depõe contra a entidade promotora do ato público, que se diz representante dos interesses e dos direitos dos trabalhadores.

A liberdade de imprensa é um dos pilares da democracia, assim como o respeito às decisões judiciais. Ultrajar os profissionais e impedir que exerçam seu ofício significa desprezar os marcos do Estado democrático de direito. A opção pela violência colocou o Brasil na oitava posição na lista de países com mais crimes sem solução contra jornalistas, segundo levantamento do Comitê de Proteção dos Jornalistas.

No ano passado, foram 99 casos de agressões aos profissionais, expressiva queda ante os 172 casos de 2016, explicada pela diminuição de manifestações públicas, como as ocorridas na quinta-feira em quase todo o país. Hoje, o Brasil ocupa o 103º lugar entre 180 nações no ranking de liberdade de imprensa, de acordo com o estudo da ONG Repórteres sem Fronteiras (RFS).

O apelo à violência é demonstração inconteste de incapacidade de dialogar, de reconhecer os próprios limites e, pior, se confundir com uma turba de vândalos. Inaceitável que militantes, independentemente da ideologia ou coloração partidária, impeçam o trabalho da imprensa, cuja missão, amparada na Constituição Federal, é a de assegurar à sociedade o acesso à informação sem a interferência do Estado ou de qualquer outra instituição, seja pública, seja privada.

O ataque aos jornalistas em Brasília mereceu o repúdio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), da Associação Nacional de Jornais (ANJ), da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), da Presidência da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no DF e do procurador-geral de Justiça do DF, Leonardo Bessa, que colocou o Ministério Público do DF e Territórios à disposição para colaborar com as investigações. O mesmo cabe para a violência em São Bernardo do Campo.

Chegar aos responsáveis é medida que se impõe. A liberdade e o respeito dispensados às manifestações públicas devem, igualmente, ser dedicados aos que trabalham e cumprem o papel social de levar aos cidadãos notícias sobre o que ocorre na cidade, no país e no mundo — sem distinção ideológica, econômica ou política. A sociedade tem o direito de ser informada com isenção, papel desempenhado pelos meios de comunicação.

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