Dorany Sampaio

José Luiz Delgado
Professor de Direito da UFPE

Publicado em: 21/03/2018 03:00 Atualizado em: 21/03/2018 08:48

O Brasil parece hoje um deserto de homens? Ou, muito pior, uma multidão de patifes da pior categoria instalados nos mais altos cargos da República? Pois ainda há homens de bem, ainda há políticos decentes, honestos, dedicados. Ou havia, como esse Dorany Sampaio que acabamos de perder. (De fato, ainda há: raros, mas há). E isso sempre é uma luz, um alento, uma esperança – por pequenina que seja.

Dorany era advogado e era político – e foi sério e respeitado numa atividade como na outra. Advogado, chegou a presidente da OAB pernambucana, naquela que penso ter sido a melhor fase da história de nossa OAB, quando uma sequência de notáveis presidentes ajudou a construir a reconstitucionalização do Brasil. Político, foi fundador do MDB, quando este não era propriamente um partido, mas uma frente, a frente dos que lutavam pela superação do regime militar. Continuou fiel ao MDB, ou PMDB, quando, conseguida a reconstitucionalização, este a rigor não tinha mais sentido de existir, virou ajuntamento de lideranças estaduais sem qualquer afinação entre elas, até com disputas intestinas – como essa, vergonhosa, a que se assiste hoje em Pernambuco, quando aventureiros querem tomar o partido, afastando suas lideranças históricas. E numa atividade ou na outra, não avançou nos dinheiros públicos, não enriqueceu. Sempre coerente, correto, idealista. Admirável, exemplar Dorany Sampaio.

Uma única vez tive oportunidade de escrever sobre ele. Foi quando desentendimentos partidários paroquianos levaram Pernambuco a perder dois grandes nomes no governo Sarney: Joaquim Francisco, no Ministério do Interior, e Dorany Sampaio, na superintendência da Sudene. Lamentei, na hora, que nos privássemos desses dois valores. Quanto a Dorany, escrevi que “a (sua) nomeação para a Sudene não poderia ter sido recebida senão com os melhores aplausos. Independentemente de sua cor partidária. Seu sentimento pernambucano e sua honradez pessoal  jamais lhe permitiriam subscrever iniciativas prejudiciais ao Estado. Tratava-se de pernambucano de bem, alçado a lugar do maior destaque”.

Conto aqui pequeno episódio pessoal, menos como registro autobiográfico do que como exemplo do procedimento habitual de Dorany. Lá um belo dia recebo telefonema dele, então presidente da OAB. Queria incluir meu nome numa lista tríplice a ser enviada à prefeitura para a nomeação do representante da OAB no Conselho Municipal de Contribuintes (terminei nomeado pelo prefeito Gustavo Krause). Impressionante é o gesto: Dorany lembrar-se de alguém que não lhe estava pedindo nada e nada tinha para dar em troca, e sequer fazia campanha eleitoral dentro da Ordem. Lembrara-se apenas de nome que ele tinha (peço a Deus que não estivesse muito errado) como decente, honesto, íntegro, independente, insuscetível a motivações subalternas Este é apenas um caso. Porque assim era a personalidade constante de Dorany: vendo sempre alto, querendo sempre o bem, o melhor para a sociedade, querendo fazer o certo, querendo realmente servir à coisa pública.

Pernambuco pode ficar menor com a morte de Dorany Sampaio. Mas tê-lo tido entre nós será sempre um orgulho e uma inspiração.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.