Recife recebe documentário e concerto em tributo ao violonista Garoto
Pioneiro do violão moderno e inspiração para a bossa nova, violonista e compositor Garoto é celebrado no Recife com documentário e show que destacam sua genialidade e legado
João Gilberto, Zé Menezes, Baden Powell, Egberto Gismonti… todos eles mergulharam nas infinitas possibilidades do violão e dos instrumentos de corda. Mas quem abriu essa porta? Um cidadão chamado Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto, um dos nomes mais proeminentes da música brasileira e a chave para entender quase tudo o que veio depois.
É em torno desse legado que o projeto Garoto — O Gênio das Cordas chega ao Recife para celebrar os 110 anos de nascimento do artista, com duas programações especiais. Nesta quinta, o Cinema da Fundação (Sala Derby) exibe o documentário Garoto, Vivo Sonhando, de Rafael Veríssimo, com depoimentos de Vinicius de Moraes, Tom Jobim e Chico Buarque. Na sexta, o trio Caixa Cubo e a violonista pernambucana Laís de Assis sobem ao palco do Teatro de Santa Isabel com um repertório dedicado às obras que consagraram Garoto como um gigante da MPB.
À frente da direção artística do espetáculo está a curadora e pesquisadora Myriam Taubkin, referência na preservação da música nacional através do projeto Memória Brasileira. O nome dele cruzou o seu caminho ainda nos anos 1980, quando produziu a série Violões, reunindo 23 instrumentistas. “Posso garantir que todos falavam dele”, relembra Myriam, em conversa com o Viver. Anos depois, ela lançou o álbum Viva Garoto, que trouxe gravações inéditas do primeiro violonista moderno do Brasil.
Fora dos círculos de artistas e pesquisadores, poucos conhecem de fato a história de Garoto. Ele costuma ser creditado apenas como parceiro de Chico Buarque e Vinicius de Moraes na célebre Gente Humilde, sua melodia mais regravada e difundida. Só para se ter uma ideia, a música foi destaque da novela Véu de Noiva (1969), a primeira a ter uma trilha sonora completa lançada em LP, e também virou um dos maiores hits da carreira de Ângela Maria.
A canção compõe um repertório de 15 faixas do espetáculo, que inclui ainda Luar de Areal, Vamos Acabar com o Baile e Inspiração, que Laís de Assis vai apresentar. Myriam a convidou por conhecer sua intimidade com a obra de Garoto e pelo domínio virtuoso da viola de 10 cordas. “Achei que a sonoridade aguda da viola, combinada com o Caixa Cubo, poderia trazer algo muito interessante. Nunca havíamos feito Garoto com viola”, revela a diretora.
Aníbal Augusto Sardinha, que ganhou o icônico apelido por ter começado a compor na infância, faleceu cedo, dois meses antes de completar 40 anos. Mas o pouco tempo que teve bastou para deixar um legado imensurável. “Foi um cara único, que tocava com maestria todos os instrumentos de corda, como se fossem exclusivamente seus. Não era apenas um ótimo instrumentista. Era um gênio”, avalia. E como gênio que foi, permanece vivo nas cordas e na memória da música brasileira.