'F1' é convencional na estrutura, mas maníaco na velocidade
Filme protagonizado por Brad Pitt e dirigido por Joseph Kosinski (de 'Top Gun: Maverick') chega nesta quinta-feira aos cinemas do Recife
As memórias da pista seguem assombrando o piloto veterano Sonny (vivido por Brad Pitt) muitos anos depois de ele ter deixado as corridas — particularmente a dolorosa lembrança do motivo do fim da sua carreira. O passado bate à porta, no entanto, quando um antigo amigo, Ruben (Javier Bardem), o convida para um grande retorno à Formula 1, no qual terá de formar uma improvável parceria com o jovem piloto Joshua Pearce (Damson Idris). Dois gênios fortes vão se cruzar, portanto, e a situação que já envolve uma série de riscos ganha uma dose extra de adrenalina, dentro e fora do asfalto.
É com esse ponto de partida bastante tradicional que F1, já em cartaz nos cinemas do Recife, dá a largada e nele se agarra até a linha de chegada. Em outras palavras, esse filme do diretor Joseph Kosinski (de Top Gun: Maverick) assume todo o pacote da narrativa heroica esportiva, do conflito geracional como centro do drama até a ideia clássica do protagonista que é chamado para voltar à ativa após tantos anos.
Com mais de 2h30 de duração e um ritmo de fluência quase maníaca, F1 teve produção do heptacampeão Lewis Hamilton, além do próprio Brad Pitt, e possui participações de pilotos reais do esporte, buscando proporcionar a mais autêntica e cinematográfica experiência possível. O esforço pela verossimilhança tem efeito notável: a cada corrida, o público tem a chance de visualizar e vivenciar a Fórmula 1 com textura, variedade de ângulos e doses generosas de tensão (tudo pode dar errado o tempo inteiro e não é surpresa dizer que, na maioria das vezes, dá mesmo).
Toda a carreira de Kosinski como diretor é especializada em ação de alta velocidade e beleza plástica. Antes do estrondoso sucesso de Top Gun: Maverick, ele já havia dirigido Tron: O Legado e Oblivion, projetos mais elogiados pelos seus prodígios visuais do que pelas estruturas narrativas. O resultado de F1 fica no meio do caminho entre os primeiros longas do cineasta e a parceria aclamada com Tom Cruise, a qual ele tenta emular de diversas maneiras agora.
A presença de astro de Brad Pitt como esse herói experiente, galanteador e cheio de rebeldia é um elemento clássico que o filme consegue trabalhar com competência, especialmente porque Damson Idris, em oposição a ele, incorpora bem também a impetuosidade e arrogância jovial de seu personagem. Kerry Condon, no papel da diretora técnica Kate, que surge como interesse amoroso de Sonny, traz o carisma feminino que se amortece os egos masculinos inflados que dominam o filme.
A má notícia é que a dramaturgia é mediada por uma montagem excessivamente comercial, que impede a plateia de sentir as consequências e respiros entre os acontecimentos. A trilha sonora do lendário Hans Zimmer se mistura a uma imensa playlist que estão sempre acelerando os desdobramentos, então tudo se resolve em um nível quase industrial — o que é excelente para a ação, mas comprometedor para o componente humano.
A estrutura similar de acontecimentos, quando aplicada a Top Gun, sofreu menos com as suas fórmulas talvez porque a lógica visual dos aviões, da relação entre terra e céu, evocava ali um aspecto instantaneamente romântico e cinematográfico, que fugia da pegada publicitária que impera nos entretempos de F1. Mas como todo o projeto existe prioritariamente pelas corridas, o alvo mais importante foi acertado: a imersão no espetáculo para os que gostam ou não do esporte.