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Francisco Cuoco fez dele próprio o seu maior personagem

Viver relembra vida e trajetória de um dos maiores nomes da televisão brasileira, que nos deixou nesta quinta-feira

Por Andre Guerra

Francisco Cuoco foi um um dos grandes galãs da TV por muitas décadas

Podemos dizer, sem qualquer exagero, que Francisco Cuoco é a cara da televisão brasileira. Celebrado como um dos maiores galãs da nossa história, viveu personagens marcados para sempre no imaginário de várias gerações — que agora, todas elas, se despedem do ícone, falecido na tarde desta quinta-feira (19), aos 91 anos de idade, após muitas entradas e saídas do hospital nos últimos meses.

Nascido em São Paulo, em 29 de novembro de 1933, o astro teve origens distantes do estrelato, mas, uma vez que chegou lá, seguiu até a fase final da vida. Francisco Cuoco cresceu no bairro italiano do Brás, onde trabalhava na feira com o seu pai, Leopoldo Cuoco.

Ao descobrir o universo da interpretação, entrando na Escola de Arte Dramática de Alfredo Mesquita, ele, que inicialmente pensava em seguir o curso de Direito, decidiu que essa seria a sua profissão. E que bom que assim o fez. Do contrário, os brasileiros não conheceriam o magnetismo sem rival do artista.

No teatro, ele estreou em peças do Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, famosa companhia paulistana. Depois, trabalhou na Teatro dos Sete, em que foi dirigido por grandes nomes como Fernando Torres, Alberto D’Aversa e Gianni Ratto. Fernanda Montenegro, estrela da companhia, foi uma das suas grandes parcerias em projetos como o espetáculo A Muito Curiosa História da Virtuosa Matrona de Efeso, de Guilherme Figueiredo. A hoje clássica peça do pernambucano Nelson Rodrigues, O Beijo no Asfalto, escrita especialmente para o grupo, foi seu primeiro papel protagonista no palco, em 1961.

Em 1970, Cuoco estreou na Rede Globo e liderou o elenco de algumas das mais emblemáticas novelas da teledramaturgia brasileira, como O Cafona (1971), Selva de Pedra (1972), O Semideus (1973), Cuca Legal (1975), Pecado Capital (1975), Duas Vidas (1976), O Astro (1977), Os Gigantes (1979), Eu Prometo (1983), O Outro (1987), O Salvador da Pátria (1989), Lua Cheia de Amor (1990), Deus nos Acuda (1992), Cobras & Lagartos (2006), Passione (2010), A Vida da Gente (2011) e Boogie Oogie (2014). Entre muitas outras. 

Enquanto personagens inesquecíveis, como o taxista Carlão e o vidente Herculano Quintanilha, marcaram a sua carreira na televisão, Francisco Cuoco apareceu poucas vezes no cinema. Ele mesmo afirmava que não recebeu tantos convites quanto gostaria. Mas teve participações notáveis em filmes como Traição (1998), no episódio dirigido por Cláudio Torres, e Gêmeas, de Andrucha Waddington. Em ambos, contracenou com Fernanda Torres, atriz que, anos antes, interpretou sua filha na novela Eu Prometo e que, em 2009, o convidou para atuar na peça Deus é Química, escrita por ela e dirigida por Hamilton Vaz Pereira.

Na real, Cuoco fez dele próprio o seu maior personagem, transformando um simples sorriso em imagens radiantes. O ator se despediu ontem das telas e da vida, mas seguirá reverberando na memória da cultura nacional. Uma estrela dessa magnitude nunca morre.