'Sirat' é o filme mais brutal e impiedoso da competição
O longa do diretor francês Oliver Laxe se torna uma das principais apostas para a Palma de Ouro

Nenhum filme balançou os espectadores do Festival de Cannes 2025 da mesma forma que o franco-espanhol Sirat, exibido na competição oficial pela Palma de Ouro. O novo longa-metragem do diretor francês Oliver Laxe (de O que Arde) apareceu na discussão como o possível primeiro forte candidato ao prêmio máximo do evento que ocorre na Riviera Francesa desde o dia 13 de maio e revelará seus premiados no próximo sábado (24). O Diario esteve presente na sessão para a imprensa.
O surpreendente thriller dramático conta a história de um pai desesperado para encontrar sua filha, que desapareceu recentemente em uma revi. Juntamente com seu filho pequeno e uma cachorrinha, ele vai em direção ao deserto marroquino na esperança de alguma pista, mas os diferentes grupos que ele consulta não parecem saber de nada. Quando o exército chega no local, os participantes da Rave se dispersam e o pai resolve seguir um grupo específico em seu carro precário para uma viagem tão perigosa.
Nada poderia preparar o público para uma designadas mais impressionantes de qualquer filme lançado em Cannes na história recente. Após este engajamento e envolvente primeiro ato, Sirat se transforma em outra experiência da qual entregar qualquer informação adicional pode estragar o impacto.
Olive Laxe é conhecido como um cineasta de filmes incômodos e provocadores. Neste seu novo projeto, ele combina uma abordagem sonora poderosa — contando com uma atmosférica trilha sonora eletrônica quase onipresente — e uma fotografia grandiosa dessa paisagem desértica para filmar situações de crueza impiedosa. A mesma premissa em um projeto hollywoodiano tomaria rumos completamente distintos, mas aqui a lei parece ser não apenas a da subversão de expectativas como a aniquilação da esperança.
Não é só o fatalismo que marca o trabalho de Laxe, mas a beleza da sua cadência. Ele não busca apenas o choque gráfico, que seria relativamente fácil de fazer com os elementos que tem à disposição, mas brincar com atenção do público de maneira malvada sabendo o que ele espera que aconteça e propondo resultados cada vez mais desafiadores.
Só como experiência de cinema, portanto, Sirat já provocaria inúmeras sensações e discussões, mas o filme pode ser encarado como um contundente comentário Iko sobre alienação europeia diante do sofrimento de outros mundos além das suas fronteiras. Aplicando-se a mesma ideia de forma mais universal, ele também pode estar falando sobre como nós só passamos a não se importar com a do alheia quando a banalidade do sofrimento chega a nossa porta, ou à porta de quem nos importamos.
Sem medo de esticar essa corda e de, no processo, inevitavelmente afastar boa parte dos seus espectadores, Sirat revela uma coragem rara de confrontar a plateia com suas próprias credulidades e, ocasionalmente, rir das suas próprias reações. Caso o júri do Festival de Cannes, presidido por Juliette Binoche, queira valorizar originalidade e audácia, ele já tem um excelente candidato para reconhecer em alguma categoria.