Médico afirma ter nadado duas horas com a noiva após naufrágio em Ipojuca, diz defesa
Detalhes do naufrágio que vitimou a advogada Maria Eduarda Medeiros foram apresentados na sexta-feira (27) pela defesa do seu noivo
Em sua versão do que aconteceu na tarde de 21 de junho, o urologista Seráfico Júnior, de 55 anos, declarou a seus advogados que ele e a noiva, a advogada Maria Eduarda Medeiros, 38, nadaram juntos por duas horas até ele perdê-la de vista. As informações foram repassadas pela defesa do médico nesta sexta-feira (27), quando, pela primeira vez, a história foi contada com mais detalhes.
Seráfico e Maria Eduarda estavam velejando, quando acabaram naufragando. Ela não conseguiu se salvar e seu corpo foi encontrado perto da Praia de Calhetas na terça-feira (24). Segundo Ademar Rigueira, eles saíram de um condomínio em Muro Alto, em Ipojuca, a bordo de um tipo de barco movido a vela, indicado para áreas rasas.
“Aquela é uma área totalmente protegida por arrecifes. É uma grande piscina de um metro e meio de profundidade. Eles estavam sem coletes, mas eram dois adultos em uma área extremamente protegida e rasa”. De acordo com o advogado, esse tipo de embarcação não necessita de “habilitação” para navegar. O naufrágio teria ocorrido durante uma manobra, na Boca da Barra do Rio Ipojuca, onde o rio se encontra com o mar. “Quando Seráfico tentou voltar, um vento forte empurrou o barco para perto da boca e os fez serem sugados pela correnteza e a embarcação virar”, detalhou.
De acordo com Rigueira, Seráfico teria colocado a cadela da noiva, Belinha, em cima do barco e orientado Maria Eduarda a se manter apoiada na embarcação até que ela afundasse. Após isso, eles teriam nadado, lado a lado, seguindo a correnteza. “O que ele me relatou é que eles conversavam o tempo todo”, afirmou.
Segundo o advogado, ao se aproximarem das rochas, ele explicou a ela que as ondas os jogariam nas pedras, para que Eduarda tentasse se proteger e subir”, contou Rigueira. Para a defesa, ela pode ter desmaiado por conta da pancada contra as rochas. “Seráfico estava com Belinha no braço. Ele diz que, pela posição do corte em sua cabeça e como ele a segurava, ela poderia ter amortecido a pancada”, afirmou.
O médico teria conseguido subir e passou a chamar por Maria Eduarda. “Um rapaz ouviu os gritos e encontrou Seráfico. Ele me contou que ficou dizendo que Duda estava no mar, mas eles não conseguiram vê-la. Era quase 19h”, relatou.
Por conta do choque contra as pedras, Seráfico foi internado no Hospital da Unimed, na Ilha do Leite, com escoriações por todo o corpo, um corte na cabeça e inchaço, conforme o advogado. Ele recebeu alta na última sexta.
"Barco à deriva"
Durante a entrevista coletiva, a defesa de Seráfico Júnior informou que o Centro Integrado de Operações de Defesa Social (Ciods) recebeu um chamado de "barco à deriva" às 17h08. Minutos depois, às 17h20, foi confirmado um barco à deriva à 1 km da costa. "Às 17h20 confirmaram se realmente havia um barco à deriva e havia. Isso foi bem antes do barco afundar. O Ciods já sabia que havia um barco afundando ali", afirmou Ademar Rigueira.
Ainda de acordo com ele, apenas às 18h56, o Ciods informou sobre fato à Capitania dos Portos. A versão foi confirmada pelo órgão, que disse ter recebido, por volta das 18h, uma informação de que havia uma embarcação à deriva. Segundo a Capitania, "de imediato", foi solicitado apoio da Praticagem do Porto de Suape - atividade que conduz os navios em segurança na entrada e saída do ancoradouro - que teria feito uma varredura no local.
A praticagem teria retornado, então, com a informação que "nenhuma embarcação teria sido avistada". Já a Capitania, "cujos equipamentos não têm condições de fazer buscas no período da noite e nem em áreas com muitas pedras, como nas proximidades de Suape, só chegou ao local por volta das 3h da manhã para iniciar as buscas". A CPPE afirma que outra embarcação mais robusta chegou a ser enviada.
O Ciods foi procurado pelo Diario, mas não deu retorno até o momento da publicação.
Mandado
Todas as informações sobre o contato com o Ciods e com a Capitania dos Portos constam do inquérito que está sendo conduzido em segredo de Justiça. O advogado Ademar Rigueira afirmou que manter o inquérito sob sigilo foi uma medida tomada de praxe depois que foi executado um mandado de busca e apreensão na casa de Seráfico Júnior, onde foi recolhido um celular dele que não estava no barco.
O objetivo, segundo a defesa, seria verificar se o médico teria consultado as condições climáticas antes de decidir fazer o passeio. Questionado se o médico já depôs, a defesa negou e disse que ainda não há data definida para o médico depor.