Profissionais criticam realocação de UTI Pediátrica do Hospital Correia Picanço para o Barão de Lucena
Medida ocorre diante da alta demanda de casos de SRAG no estado, segundo a Secretaria de Saúde
Com a transferência dos leitos da UTI Pediátrica do Hospital Correia Picanço (HCP) para o para o Hospital Barão de Lucena (HBL), ambos no Recife, profissionais de saúde têm demonstrado preocupação de como a medida pode afetar as crianças que estão internadas com meningites no HCP. Na segunda-feira (16), representantes da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) estiveram reunidos com profissionais para discutir o assunto.
O Hospital Correia Picanço é considerado referência no diagnóstico e tratamento de meningites e possui cinco leitos pediátricos, sendo que quatro estão ocupados, de acordo com a médica da unidade Renata Jordão.
“As infecções bacterianas que causam a meningite diminuíram bastante com as vacinações, e o estado se apegou a estes dados para fechar esta UTI. Porém, não é uma UTI somente de meningite e nem bacteriana. A gente teve algumas meningites graves este ano e tivemos crianças internadas, sendo algumas com chikungunya e sarampo”, destaca a médica.
O hospital é atualmente o único da rede pública com UTI pediátrica especializada em meningites e leitos de isolamento. Os profissionais defendem que a estrutura é crucial tanto para o tratamento intensivo das crianças acometidas por essas doenças quanto para a contenção de surtos.
A equipe médica da unidade argumentam que a desativação desse serviço pode acarretar diversos impactos negativos, como a falta de atendimento especializado, aumento da mortalidade infantil, sobrecarga de outras unidades de saúde e maiores riscos de complicações neurológicas em longo prazo.
Outro serviço oferecido pelo hospital é a coleta e análise do líquido cefalorraquidiano (LCR), fundamental para o diagnóstico precoce de meningites e encefalites.
Além disso, o hospital presta suporte a instituições da rede pública e privada que não possuem estrutura para lidar com infecções neurológicas complexas. Diante desse cenário, profissionais defendem a manutenção e o fortalecimento do serviço pediátrico da unidade, com investimentos em estrutura.
“Nesse momento, a urgência pediátrica são dos quadros respiratórios e a gente sabe disso. Mas as outras doenças não deixam de aparecer. Então, a justificativa do estado é abrir mais cinco leitos no Hospital Barão de Lucena para dar vazão às doenças respiratórias das crianças. O que eu, como representante da equipe agora, também esclareço é que é de comum um acordo para a equipe também. A gente também almeja esse aumento dos leitos e não é de agora”, pontua Renata Jordão.
No entanto, ela complementa que o ideal seria que os leitos de UTI pediátrica deveriam ser abertos no Hospital Correia Picanço.
O que diz o governo
De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), os profissionais que atuam na UTI Pediátrica do Hospital Correia Picanço serão transferidos para o Hospital Barão de Lucena, que receberá 10 novos leitos de UTI Pediátrica, “devido à emergência sanitária causada pela alta demanda por atendimento de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças”.
“Com essa reorganização, o atendimento das crianças internadas por meningite, até então realizado no HCP, passará a ser feito no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC). O HUOC dispõe de infraestrutura especializada, com enfermarias e UTIs dedicadas a doenças infectocontagiosas pediátricas, garantindo a continuidade e a qualidade do atendimento”, explica a pasta.
A secretaria ainda argumenta que, em 2024, “o HCP registrou 119 casos pediátricos de meningite, dos quais 17 exigiram internação em UTI (média de 1,4 paciente/mês). Os demais 102 casos foram tratados em enfermaria, com baixa ocupação da UTI pediátrica, que chegou a registrar índices inferiores a 30-40% em alguns períodos”.
A nota ainda destaca que foram abertos 305 leitos pediátricos no estado e que o governo publicou um decreto que autoriza ações emergenciais administrativas para a abertura de novos leitos pediátricos por 90 dias, com possibilidade de prorrogação, por conta dos casos de SRAG.
“Com relação à coleta do líquido cefalorraquidiano (LCR), inicialmente, mantém-se no Correia Picanço”, informa a SES-PE.