Acolher com histórias: como a leitura transforma hospitais no Recife
Com 27 anos de atuação e 65 voluntários ativos na capital pernambucana, a Associação Viva e Deixe Viver consolida sua presença em Recife levando literatura, escuta e afeto a hospitais, em uma revolução silenciosa que transforma dor em esperança, uma história por vez
Na capital pernambucana, onde a realidade hospitalar costuma ser marcada por longas internações e desafios emocionais intensos, a contação de histórias tem ganhado contornos terapêuticos e transformadores. Desde 2003, Recife abriga uma das unidades mais atuantes da Associação Viva e Deixe Viver, uma Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos que utiliza a leitura como ferramenta de cuidado e empatia. Em 2024, o grupo local impactou mais de 12,5 mil pessoas, entre crianças internadas, acompanhantes e profissionais da saúde, reafirmando a potência do afeto em meio à dor.
O trabalho é coordenado por Ana Inês Pina, profissional com mais de três décadas de experiência em gestão de Recursos Humanos, que hoje lidera uma equipe de 80 voluntários. Esses voluntários dedicaram 1,9 mil horas em 929 intervenções, levando o encantamento das palavras para seis hospitais recifenses, entre eles o Hospital Infantil Maria Cristina e o IMIP. A cada semana, seus rostos se tornam familiares nos corredores das unidades, e suas vozes, fontes de consolo.
“É um trabalho silencioso, mas que ecoa fundo na alma de quem escuta”, resume Ana Inês.
A ONG nasceu em São Paulo, em 1997, inspirada por uma vivência de seu fundador, Valdir Cimino, nos Estados Unidos. Ao retornar ao Brasil, ele passou a ler para crianças no Hospital Emílio Ribas e dali germinou a semente da Viva: uma associação comprometida em usar a literatura como instrumento de acolhimento, com atuação baseada na ciência e no afeto. “O cuidado pode começar com um livro e terminar com um abraço”, afirma Cimino.
Hoje, a Viva e Deixe Viver é referência nacional em políticas públicas de humanização hospitalar e educação. Está presente em 89 hospitais de cidades como Salvador, Brasília, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Em 2024, seus 601 voluntários realizaram mais de 5,6 mil intervenções presenciais, alcançando cerca de 44 mil crianças hospitalizadas, além de mais de 41 mil pais e 8 mil profissionais de saúde. Mais de 12 mil livros foram lidos apenas no ambiente hospitalar.
Um estudo realizado com o Instituto D’Or e a Universidade Federal do ABC demonstrou que a leitura em hospitais reduz significativamente o estresse infantil, superando até outras atividades recreativas.
A cada história contada, a Viva e Deixe Viver mostra que o afeto pode ser a mais poderosa das medicinas. E que, mesmo nos corredores frios de um hospital, mora a esperança.