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RIO-2016

Ilariê, DJ animador, bateria de samba... A vida é um eterno verão na torcida do vôlei de praia

Em um dos esportes mais 'jovens' dos Jogos, comportamento da galera é um misto de azaração à beira-mar com programa de auditório

Publicado: 15/08/2016 às 14:21



Rio -
Parte da imprensa estrangeira anda abismada com a torcida local nos Jogos Olímpicos do Rio. E não é por aquilo que os brasileiros mais gostam de acreditar que carregam - a tal energia incomparável -, e sim por alguns deslizes de etiqueta - erros forçados e não forçados, no caso. No tênis, mais claramente, a torcida local está incomodando até quando não há brasileiro em quadra, como ocorreu na final de duplas, entre Espanha x Romênia, com desnecessários berros de “vai, Corinthians” e “Mengooo” antes dos saques.

Mas o Rio nem precisa esperar semifinal e final do futebol masculino desembarcarem no Maracanã para se sentir à vontade na vaia, no xingamento, na histeria. Ali, no coração da cidade, em Copacabana, o vôlei de praia, esse jovem esporte olímpico, se apresenta como o local ideal para exortar os atletas como se estivesse em cima de um trio elétrico.

Das 42 modalidades presentes nos Jogos do Rio, apenas cinco não são mais recentes do que o vôlei de praia: golfe, rugby, BMX, triatlo e trampolim. E, talvez, essa “juventude” seja combustível para a permissividade. Vôlei de praia é a luta livre do ato de torcer: vale tudo mesmo.

Além dos “comandos” básicos, que incluem incentivar o público a gritar, com mensagens de “vamos fazer barulho” no telão, e “aulas” de ola para a galera, também presentes no vôlei de quadra, no basquete e no handebol, a turma que vem lotando Copacabana conta com uma bateria de escola de samba e um “puxador”, que levam de Xuxa a Gonzaguinha em busca da temperatura (e da batida) perfeita. O sambão era para ser “show do intervalo”, mas com frequência adentra o início dos pontos sem cerimônia.

A música mecânica, elemento básico da modalidade tanto quanto atletas, bola e rede, passeia por todos os gêneros, de gustavo-lima-e-você a Shania Twain, e todas as épocas: no sábado, foi possível ouvir a uma engenhosa sequência com La Bamba, Michel Teló, AC/DC, Volare, Thriller e Gangnan style. “Estou amando tudo, nunca imaginei que Olimpíadas pudessem ser assim”, empolgou-se a servidora pública Maria de Fátima Almeida, de Brasília, que está no Rio, com a família, para uma semana olímpica. Nem ela nem ninguém, provavelmente. “Bastante diferente, mas muito divertido”, emendou o canadense Steve Mason, que estava na arena à espera do jogo feminino entre duas duplas do seu país.

Quando a partida ocorre pela manhã, sob sol de 34° ou 35°, blusas e camisetas se separam do corpo como água e azeite, antes mesmo de o torcedor sentar. Tatuados, em forma ou nem tanto, se posicionam à caça de moçoilas de biquíni, que, vira e mexe, também são exibidas no telão - na torcida do vôlei de praia, somos todos Cristiano Ronaldo.

E como aquela arquibancada é, de certa forma, uma extensão do futebol, não falta o grito de “Zika!” para as atletas americanas, que começou dirigido à goleira Hope Solo, no Mineirão, e estranhamente pousou em Copa. Ao menos duas duplas dos Estados Unidos receberam o mesmo tratamento, embora nenhuma das quatro atletas tenha feito qualquer comentário público sobre o tema.

Há uma outra grande vantagem em torcer pelo vôlei de praia, aparentemente. Quando o jogo acaba ninguém na arena está muito preocupado com o resultado. Ao menos foi assim até às oitavas de final da competição. No mesmo dia em que uma dupla masculina do Brasil ganhou e a outra perdeu, a torcida, que lotou nos dois jogos, foi embora em êxtase sob o ritmo do batuque, que engrenava uma versão de Ilariê, da Xuxa. Faz sentido: quem quiser brincar com a gente, pode vir, nunca é demais.
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