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TRIATLO

Brasília ostenta melhores resultados do Brasil no triatlo há 3 décadas

Ausência de trabalho para formação de base faz o Brasil estacionar no cenário internacional do triatlo

Publicado: 02/02/2018 às 14:56

Alexandre Manzan e Leandro Macedo, expoentes do triatlo de Brasília: no auge das carreiras, brilharam no Circuito Mundial
Dois dos melhores triatletas brasileiros já haviam passado do auge das carreiras quando o triatlo começou a integrar os Jogos Olímpicos, na edição de Sydney-2000. Na época, o brasiliense Alexandre Manzan, aos 26 anos, não se classificou. Já Leandro Macedo, porto-alegrense radicado em Brasília, terminou a prova olímpica na 14ª posição, aos 32 anos. A equipe verde-amarela, com quatro representantes, contava ainda com Sandra Soldan, que chegou na 11ª posição. Resultados que seguem como os melhores do país em Olimpíadas.

Desde então, ocorreram cinco edições do Jogos Olímpicos. Em Atenas-2004, a equipe brasileira de triatlo contou com número recorde de participantes. Foram seis atletas no total — Leandro e Sandra estavam entre eles. Já nas Olimpíadas mais recentes, justamente a sediada no Rio de Janeiro, em 2016, o país anfitrião contou com apenas dois representantes, a menor participação brasileira na prova do evento. Para Leandro Macedo e Alexandre Manzan, que figuraram no topo do ranking mundial, a queda de rendimento nacional é fruto da falta de renovação na modalidade.

“Sabemos que ocorreram investimentos, mas essa não é a causa principal da ausência de renovação. É mais um contexto cultural, social e emotivo”, avalia Manzan, que foi triatleta profissional por mais de 15 anos, após começar a carreira de esportista em 1990. “Falta ao brasileiro entender que o esporte de alto rendimento não é só coração. O peso do país todo está nas costas dele. É preciso ter frieza de treinar e entrar na competição sabendo o que deve fazer na prova.” Manzan ganhou três etapas do circuito internacional e foi vice-campeão mundial da modalidade em 1996.

Marco Antônio La Porta, presidente da Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri) desde abril de 2017, rebate apontando a mudança do critério de classificação para as Olimpíadas. Antes, a pontuação era conquistada em provas continentais. A partir de Pequim-2008, passou a ser em Copas do Mundo. “O que não é demérito daquela geração, que teve o melhor resultado da história em Olimpíadas. Mas, a partir de Pequim-2008, houve uma queda de seis para três atletas”. Média que, segundo La Porta, era para se repetir nos Jogos do Rio-2016, mas Reinaldo Colucci se lesionou e Beatriz Neres engravidou.

Brasil estacionar no cenário internacional do triatlo

Leandro Macedo, por sua vez, ressalta que o critério mudou, mas se mantém igualmente válido para todo mundo. “É o nível técnico mesmo que não atingimos, o processo sempre foi oneroso. Na nossa época, tinha de pontuar, fazer muitas viagens e, no final, os melhores do ranking tiveram apoio da confederação para viajar às competições”, observa o único brasileiro campeão do Circuito Mundial, conquistado em 1991. Cinco anos depois, ficou na terceira colocação no Campeonato Mundial da modalidade, nos Estados Unidos. Para as Olimpíadas de Sydney, porém, Macedo conta ter conseguido a classificação por meio de patrocínio pessoal, que na época era oferecido pelo Pão de Açúcar.

Medalhista de bronze nos Jogos Pan-Americanos do Rio-2007 e participante de três Olimpíadas (de 2000 a 2008), Juraci Moreira foi outro brasileiro a se aproximar do desempenho de Leandro Macedo no triatlo. Segundo ele, a falha ocorre justamente no trabalho de renovação. “De lá para cá, ninguém conseguiu ficar no topo do circuito mundial”, constata.

[SAIBAMAIS]

Confederação Brasileira de Triathlon volta para Brasília

Sediada em Vila Velha, Espírito Santo, até o ano passado, a Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri) voltou para a cidade onde foi fundada, em 1991. Brasília é a “nova-velha” casa do triatlo brasileiro. “O fácil acesso a todas as regiões do país também pesou na escolha da capital federal como nova sede, além de nos aproximamos de parceiros e públicos estratégicos importantes, como o Ministério do Esporte”, avalia Marco Antonio La Porta.

Esperança de evolução a longo prazo

Manoel Messias é a grande promessa do Brasil: campeão mundial júnior, em 2015, e vice no Mundial sub-23, em 2016Leandro Macedo coordena atualmente a própria assessoria de triatlo. Segundo ele, o surgimento de um brasileiro no topo do ranking mundial não foi fruto de um trabalho de base, detectando talentos e estimulando o desenvolvimento, mas de um fator genético e de “condições favoráveis de Brasília.” Criado na capital federal, o ex-triatleta começou na modalidade aos 18 anos, o que é considerado tarde para os padrões atuais. “Sempre gostei de esporte, como futebol, basquete, vôlei. Parei no triatlo porque era o que englobava mais coisas”, comenta.

“De lá para cá, não surgiu um novo talento ao acaso, como também ocorre na maioria das demais modalidades no Brasil”, define Macedo, que é também o presidente da Comissão de Treinadores da confederação. Segundo ele, o trabalho voltado para a base está começando a ser feito apenas agora e se projetam resultados para daqui oito ou 12 anos. “Ficamos de olho nos talentos, mas é um ou outro menino que mostra potencial para ser desenvolvido. Não existe um projeto com 100 crianças do qual possamos tirar dois ou três que se destacam”, critica.

Aos 21 anos, Manuel Messias é o talento mais promissor do triatlo brasileiro apontado por Leandro Macedo. Atleta revelado por um projeto social em Fortaleza, migrou para São Carlos, em São Paulo, onde treina no Sesi e está sendo trabalhado para ganhar bagagem nos Jogos Olímpicos de 2020 e tentar chegar forte na Olimpíada seguinte. Ele foi campeão mundial júnior, em 2015, e vice-campeão mundial sub-23, em 2016.
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