° / °
Esportes DP Mais Esportes Campeonatos Rádios Serviços Portais

Destacado por Lula, campeão olímpico juvenil tenta voltar aos pódios após depressão

Às vésperas dos Jogos Olímpicos, pugilista David Lourenço ainda tem esperança de representar o país

Por

3633488

“Eu nasci de novo.” O clichê frequenta a fala de David Lourenço. A sensação de estar começando tudo outra vez, depois de ter atingido o auge de modo precoce, não desanima o pugilista, de 23 anos. Campeão olímpico da Juventude em 2010, o atleta conseguiu um feito inédito para o país, mas viu os frutos da conquista se esvaírem. Recuperado da depressão que o tirou da Seleção Brasileira, David tenta retomar o tempo perdido nos últimos cinco anos. Lembranças, sonhos e a dura realidade se misturam na mente do rapaz, que só vê um caminho possível: o boxe.

[SAIBAMAIS]As lembranças do passado do pugilista incluem cenas daquele 20 de novembro de 2010. Ao lado do lutador, estava o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. David tinha 18 anos, vinha de família humilde e acabara de voltar de Cingapura aplaudido pelos brasileiros, quando foi parabenizado publicamente pelo chefe de Estado. Ao lado do boxeador e da judoca Flávia Gomes, Lula falava sobre o futuro e apontava o medalhista como exemplo ao anunciar a meta do país de se tornar Top-10 no quadro de medalhas em 2016.

Lula mal poderia imaginar o decepcionante destino de David cinco anos após o ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude. O jovem abateu-se por uma depressão que fez a Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe) tirá-lo da Seleção Brasileira por indisciplina e faltas. “Pensei que teria um descanso quando eu voltasse dos Jogos, mas não tive. O pessoal cobrava muito desempenho e resultado. Estava passando por momentos muito ruins, e ninguém me entendia”, conta o lutador ao Correio. “Briguei com minha família, e isso me abalou muito. Eu sentia que era só um atleta pra eles, não um filho”, reclama. Foi com o pai, Ailton Cardoso, campeão nacional de kickboxing, que o atleta começou a treinar, socando pneus que faziam a vez de saco de pancada.

O retorno
Sentindo-se sozinho, longe da família e sem apoio da CCBoxe, David viu a carreira morrer em 2013. O renascimento do lutador só veio no ano seguinte, quando começou a refazer os passos que o tinham levado ao pódio olímpico. Passou a treinar no Centro Olímpico de São Paulo e logo reencontrou o primeiro técnico da carreira, Ricardo Rodrigues. Agora, obtém sucesso nas competições estaduais e regionais e tenta reconquistar a confederação. “Não sei se eles ainda vão me querer”, diz, inseguro.

O salário fica por conta do clube São Caetano-SP, no qual treina de manhã e à tarde. “Fiz as pazes com minha família e agora está tudo bem”, conta o jovem paulista, de fala breve e tímida. Convertido evangélico, David atribui o retorno aos ringues à própria fé. Ele não poupa convicção: “Meu sonho é ser campeão em 2016. Depois, quero passar para o profissional e, quem sabe um dia, lutar com o Manny Pacquiao”, diz, de forma inocente, referindo-se ao boxeador filipino dono de seis títulos mundiais. Esperançoso, o rapaz não demonstra resquícios de depressão. Só lhe resta confiança. “Eu vou estar nas Olimpíadas do Rio”, avisa.