Em longa entrevista, Diego Souza abre o jogo e diz: "Toda hora se fala de dinheiro aqui"

[SAIBAMAIS]Diego Souza esteve à vontade frente à reportagem do Superesportes. Sem titubear, falou de tudo o que mais lhe incomoda no Sport. E o que lhe faz bem. Na verdade, apresentou muito mais prós do que contras na sua estada de quase dez meses no Recife. Um dia após marcar dois gols e orquestrar o time na estreia no Brasileirão, contra o Figueirense (vitória que dá a liderança momentânea da competição ao Leão), o meio-campista ponderou sobre o excesso de críticas que vinha recebendo da imprensa e da torcida. Retrucou com uma análise dura, porém sincera. “Ainda não estão acostumados com isso (jogadores renomados)”.

Comentou também o que pensa sobre a monotonia das discussões acerca do seu salário e demonstrou certa irritação ao citar “calúnias” da mídia. Pontuou sobre Seleção Brasileira, os favoritos ao título da Série A e seu futuro no Leão. Mostrou-se otimista e com planos ousados no Brasileirão. O artilheiro rubro-negro na temporada, com oito gols, abriu seu coração. E, aos 29 anos, explicou por que para ir bem no Sport é preciso ser muito mais do que simplesmente um craque dentro de campo. Confira a entrevista abaixo.

Quando um atleta de renome vem para o Nordeste, vem porque está em fim de carreira ou em curva descendente. Não foi seu caso. O que te levou aceitar o convite do Sport?
O Sport é uma grande equipe nacional e até internacional. Minha escolha foi pelo projeto, por tudo o que o Sport representa na região Nordeste e no Brasil. Não conhecia ainda bem o clube e acreditei no projeto que me apresentaram. E estou feliz. As críticas acontecem, mas estou feliz. Eu, meu pai, minha família e meu empresário achamos bom vir, gostei e não tem arrependimento nenhum.

Você é um atleta que construiu identificação com o Grêmio, Palmeiras, Vasco… E aqui no Sport, acha que já está próximo de haver essa identificação com o clube?
Caminhando. Ainda tem o Brasileiro todo pela frente. Quero é pôr o escudo do Sport em evidência. Temos tudo fazer boa campanha e uma bonita trajetória. Conseguindo fazer isso, o carinho, não só comigo, mas com todo o grupo, vai acabar aparecendo.

Como foi ouvir a torcida gritando seu nome após os gols contra o Figueirense e toda a pressão que você e o grupo estavam passando?
Fiquei feliz, sabíamos da pressão, que o torcedor que iria ao jogo é o que sempre vai e sempre cobra, que é o mais chato até de cobrança. Mas fizemos por merecer. Corremos, nos dedicamos, fizemos os gols e acabou. Às vezes, o torcedores vão a campo pensando uma coisa e em campo a gente reverte e traz eles para perto da gente. É isso que temos que fazer.

Analisando a Série A atual, para você, quais os clubes que vão brigar pelo título?
Se tivesse que apostar em um só, não apostaria. Mas tem equipes que se prepararam, tem elencos bem fortes e normalmente sempre chegam. Corinthians, Internacional, Atlético-MG e Cruzeiro são equipes que vão dar trabalho… Palmeiras também… Mas acho que o Corinthians, por tudo o que envolve, pelo fato de o Tite conhecer bem o seu grupo... E já começou vencendo. É uma equipe que está mais preparada para ganhar o título, mas não que vá ganhar. Futebol é em campo. Se acha que já ganhou, pode ser surpreendido.

E o “patinho feio”, como você se referiu ao Sport após a vitória com o Figueirense, até onde pode chegar?
Vamos lutar com todas as forças e eu acredito que começamos a competição de igual para igual com todo mundo. Vamos pensar em título, Libertadores, em tudo. Temos que ir somando pontos para chegar no final brigando por algo bom.

Com os reforços que estão chegando, o Sport fica pronto para a Série A?
O Sport está se reforçando com jogadores de qualidade. Hernane é um jogador que jogou no Flamengo e foi artilheiro da Copa do Brasil. É um jogador que tem tudo para ajudar muito. O Samuel é um grande lateral, novo, está cheio de vontade, de botar a cara no futebol, e tem tudo para nos ajudar também. Estamos no caminho certo.

Sobre Seleção Brasileira. A sua única convocação veio com Dunga, em 2009. Com o técnico de volta ao comando da canarinho, você ainda sonha em uma nova chance?
Futebol é muito dinâmico. A oportunidade que eu gostaria de ter tido foi em 2010. Acho que fiz por merecer, mas já estava muito em cima e Dunga já tinha o seu grupo. Mas agradeço pela oportunidade e, quem sabe, fazendo um Brasileiro brilhante… Como eu disse, até que prove o contrário, vamos brigar de igual com todos.

Pelo tanto que se fala de você, do seu salário, da sua vida… Você acredita que ainda há um certo provincianismo da imprensa e da torcida do Sport em relação a jogadores renomados?
Não estão muito acostumados com isso, nem a imprensa nem a torcida. Mas vão se acostumar. A tendência é que isso aconteça mais vezes. O Sport é uma equipe de tradição e a cada ano vai estar trazendo grandes jogadores. Quem sabe igualar com as equipes do Sudeste e do Sul para fazer grandes campeonatos. Tem que saber lidar. Aqui, as pessoas têm que saber que, além de jogar, o atleta é uma pessoa normal. Tem a sua vida, seus hobbies, suas coisas, e aqui se apegam muito a isso. Sou normal, como todas as outras pessoas, tenho o meu momento de lazer. Não entendem muito isso. Qualquer coisa que faço é motivo de falarem.

Você se refere ao futevôlei que você joga na praia?
Pode ser qualquer hobby. Se jogar muito boliche, acham que está perdendo foco porque só quero o boliche. Não tem nada a ver. Isso acaba jogando contra.

Chega a te irritar a quantidade de comentários sobre os seus salários?
Toda hora se fala de dinheiro aqui, isso não existe. A contratação é feita dentro do orçamento. Futebol é dinâmico. Quando eu não tiver bem, o meu companheiro vai estar, assim como eu posso ir bem e um companheiro não estar bem em um determinado jogo. Ninguém resolve nada sozinho. De repente, porque a nossa folha é inferior à do São Paulo e à do Flamengo, vamos entrar em campo achando que perder é normal? Claro que não. Aqui tem que suar muito para ganhar da gente. Ninguém fica pensando em folha ou salário.

São muitos boatos a seu respeito. Falam mil coisas dos seus bastidores, como briga com o técnico, má relação com companheiros…
Não sei o que tanto falam. Disseram que a minha esposa queria que eu voltasse para Rio de Janeiro, falaram o mesmo do meu pai. Eles sequer deram entrevista. Isso é novo aqui para mim. Eu não uso nem redes sociais, mas tive que fazer porque tinha muito fake. Ouço dizerem que ‘há fontes seguras de que o Diego vai para o Vasco’, falam mil coisas... Ninguém falou nada. Tem também: ‘Diego teve briga com Eduardo Baptista’ ou ‘O grupo não gosta do Diego’… É cada calúnia… De onde se tira isso? E o interessante é que o que um fala, os outros comentam como se fosse fato e isso vai virando uma bola de neve. Aí, daqui a pouco, uma mentira contada 20 vezes acaba se tornando verdade e as pessoas na rua acabam achando que é verdade mesmo, que aqui dentro não se conseguem os resultados porque há briga ou porque o grupo não gosta de mim ou porque eu ganho mais e os demais não me aceitam. Não é nada disso.

Alguma possibilidade de deixar o Sport antes do fim da Série A?
O meu contrato vai até dezembro e não tem problema nenhum.

E o que você planeja para o seu futuro? Pretende permanecer no Sport, voltar aos times do eixo Sul-Sudeste…
Entrego na mão de Deus. Tenho contrato fora do país ainda por dois anos (com o Metalist, da Ucânia) e tem este ano inteiro aqui ainda e espero as coisas acontecerem. Estou feliz aqui, não tenho o que reclamar. Estou em uma equipe boa, com boas condições de trabalho e não tenho o que falar. Deixar as coisas acontecerem.

Quando você sair, que imagem você vai levar do Sport?
Tenho praticamente um ano aqui e quando perguntarem sobre o que falar do Sport, vou responder que é um clube onde se há uma cobrança boa da torcida, mas também tem uma boa condição de trabalho. E que se o Sport acreditar um pouco mais que tem condições de disputar com todo mundo as coisas, ele vai ter grandes chances de chegar muito mais à frente do que imagina.