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Preconceito: apenas dois dos 40 técnicos das séries A e B são negros

Roger Machado, do Bahia, e Marcão, do Fluminense, são os únicos treinadores negros nas duas principais divisões do Brasil

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Segundo dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) 2018, divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 56,2% da população brasileira se autodeclara preta ou parda. No país e no esporte do maior jogador da história, o Rei Pelé, apenas dois treinadores entre os 40 das Séries A e B são negros: Roger Machado, do Bahia, e Marcão, recém-efetivado no Fluminense, fazem bons trabalhos no comando das suas equipes. Ambos vão ao campo hoje à noite pela 24ª rodada do Brasileirão.

No mercado brasileiro, além dos dois exemplos empregados, temos Cristóvão Borges, Andrade e Lula Pereira, que sofreu Acidente Vascular Cerebral (AVC) em agosto. Todos estão desempregados e não são citados quando um treinador é demitido. Cristóvão Borges foi efetivado no Vasco em 2011 após o problema de saúde de Ricardo Gomes. Naquele ano, conduziu o cruzmaltino ao vice-campeonato brasileiro. Com boas passagens por Fluminense, Flamengo, Corinthians e Athlético-PR, o treinador não é contratado desde 2017.  

Andrade é ídolo da "Nação" rubro-negra. Não só pela Libertadores e o Mundial conquistados como jogador, mas também pelo título brasileiro em 2009. Ele era o treinador na arrancada do Flamengo. Liderava Petkovic e Adriano Imperador. Após uma saída conturbada do clube, passou por Brasiliense, Paysandu e Boavista. Hoje, não comanda nenhum clube.

Lula Pereira, também ex-jogador, é outro bom treinador que sumiu do cenário nacional. Com uma carreira de 20 anos, Lula passou por mais de 20 clubes no Brasil. Entre eles, Flamengo, Brasiliense, Bahia, Ceará, Avaí e Guarani. Mas não é sondado por nenhum clube de elite desde que se tornou diretor técnico do Ferroviário, em 2016.

O ex-técnico sofreu AVC, passa por tratamento e segue em plena recuperação. Luiz Eduardo, filho de Lula, comentou  a situação da discrinação no futebol em entrevista ao Correio. “O preconceito existe, todos sabemos. Grande parte dos melhores jogadores brasileiros é negra, e os treinadores, quais são?”, questiona Luiz.

O brasiliense Victor Santana, ex-treinador do Sobradinho, foi demitido após campanha ruim na Série D deste ano e não entende o motivo de os técnicos negros serem excluídos. “Andrade, Cristóvao e Lula simplesmente sumiram dos clubes. Torço muito para que esse cenário mude. O Andrade foi campeão! Simplesmente  campeão brasileiro. Algo de errado tem”, critica o treinador campeão candango em 2018.

Roger Machado, ex-lateral-esquerdo e ídolo no Grêmio e Fluminense, começou a carreira como técnico no próprio tricolor gaúcho. Era auxiliar técnico. Em 2014, foi convidado para dirigir o Juventude e aceitou o desafio. Um ano depois, retornou ao Grêmio para o lugar de Luiz Felipe Scolari. Comandou a equipe por 94 partidas e colocou o clube de volta na Libertadores com a terceira colocação do Brasileirão de 2015. Após pedir demissão do tricolor gaúcho, passou por Atlético-MG e Palmeiras até chegar ao Bahia.

Uma das três derrotas do líder Flamengo, de Jorge Jesus, foi para o Bahia de Roger Machado, por 3 x 0, na Arena Fonte Nova. O sistema tático dele é planejado com foco na marcação.  Mas os três volantes são modernos: desarmam, passam, armam e finalizam. O setor central é a peça-chave do Bahia. Na sétima colocação, o tricolor tem 53,6% de aproveitamento e briga por vaga na Libertadores, o que seria um presente pelo ótimo trabalho. Hoje, o Bahia receberá o São Paulo, adversário direto pelo G6, desfalcado de Dani Alves — convocado para a Seleção.

Aposta

Ex-jogador, ídolo, identificado com a torcida e assistente técnico permanente do Fluminense. Assim Marco Aurélio de Oliveira, o Marcão, chegou ao cargo de treinador do clube carioca na última semana. O tricolor amargou a zona da degola após as passagens de Fernando Diniz e Oswaldo de Oliveira. Com Marcão, Flu venceu os dois jogos, contra Grêmio e Botafogo.  

Atendendo aos pedidos da torcida, a diretoria apostou no ex-volante e auxiliar Marcão. Após a primeira vitória contra o Grêmio, confirmou a permanência do novo treinador. É nítida a herança deixada por Fernando Diniz no trabalho do novo treinador. O time segue com a posse de bola, mas preza muito pela objetividade, o que vinha faltando no time de Diniz. Contra o Botafogo, por exemplo, o Flu teve duas chances de gol e aproveitou uma. O resultado foi uma vitória magra, três pontos, mais distância da zona de rebaixamento e a torcida de novo apoiando o time.

Agora, Marcão tem prova de fogo. O duelo contra o Cruzeiro pode deixar o Flu a oito pontos da faixa de descenso em caso de vitória. Apesar dos três desfalques (Digão, Allan e Caio Henrique), o time evoluiu e pode surpreender o Cruzeiro no Mineirão. O ex-volante Marcão conquistou dois títulos cariocas (2002 e 2005) pelo tricolor das laranjeiras e ficou famoso por uma pintura de bicicleta com a camisa tricolor em um clássico contra o Botafogo.
 
*Estagiários sob supervisão de Marcos Paulo Lima