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O futebol antes das bicicletas: o Parque da Jaqueira já foi o berço do futebol local

Entre as décadas de 1920 e 1930, a Jaqueira teve um campo onde foram disputadas partidas decisivas pelo Campeonato Pernambucano

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Para quem costuma ir ao Parque da Jaqueira, na Zona Norte do Recife, ambiente que abriga as práticas esportivas das comunidades e bairros ao redor, talvez não imagine o tamanho valor histórico deste espaço para o futebol pernambucano. Isto porque a pista de bicicross, uma das áreas de lazer do parque, já deu lugar, no século passado, a um gramado de futebol. A imponência das chuteiras de antes deram lugar às rodas de bicicleta de hoje. No Campo da Jaqueira (que, se ainda existisse, completaria 98 anos no fim deste ano) que a história do futebol pernambucano começou a ser escrita.

As origens

O Parque da Jaqueira percorreu um longo trajeto, antes mesmo de abrigar um campo de futebol. Para além das disputas dentro dos gramados, o solo do parque mais famoso do Recife também foi palco de batalhas armadas. Um dos seus primeiros registros ocorreu ainda no século 17, no embate entre luso-brasileiros e holandeses que tentavam capturar o forte no Arraial Velho do Bom Jesus. No século seguinte, o terreno, durante muito tempo, fez parte do sítio de um rico comerciante recifense, Henrique Martins.
]Pouco a pouco, no século 19, entre as décadas de 1920 e 1930, o antigo sítio deu lugar ao conhecido Campo da Jaqueira, um dos primeiros estádios do Recife na era amadora do futebol, conhecido também como América Parque - uma vez que o América era o time que jogava como mandante no estádio. 

As memórias 

O início desta história começou no dia sete de novembro de 1920. O duelo entre Sport e CSPeres inaugurou a primeira partida das 474 realizadas no Campo da Jaqueira. Com um placar elástico dos rubro-negros, o Sport sagrou-se como o primeiro time a vencer na “inauguração” do estádio, ganhando por quatro a um a equipe do CSPeres.

Mesmo com a companhia de outros estádios que realizavam os jogos, tais como Aflitos, Ilha do Retiro, Av. Malaquias e o British Club, o Campo da Jaqueira percorreu duas décadas de hegemonia. Entre 1920 até 1940, o estádio vivenciou conquistas marcantes, imortalizou clubes e jogadores. Inclusive, um desses se mantém vivo até hoje na memória do Santa Cruz. Humberto de Azevedo Viana, mais conhecido como Tará, é o maior artilheiro da história do Tricolor, com 207 gols. E, no Campo da Jaqueira, fez história, marcando cinco gols em três títulos (1931, 1933 e 1935) disputados no local. A conquista de 1931, inclusive, a primeira da história do Santa Cruz.

No dia três de abril de 1941, a partida entre Santa Cruz e Great Western, marcou a despedida do campo da Jaqueira, depois de 21 anos de história. O confronto terminou com o placar de quatro a um para os tricolores. A partir dali, o campo da Jaqueira deixaria de fazer parte do calendário do futebol pernambucano. Ficariam as lembranças.

Ao todo, dez títulos foram decididos no campo. O Sport foi o primeiro campeão do estádio, ao vencer o Santa Cruz pelo placar de 1 a 0, com gol de Becker, no dia três de abril de 1921. Mas foi o Santa que mais vezes levantou troféus durante as duas décadas no estádio da Jaqueira. Foram três títulos conquistados, em 1931, 1933 e 1935. Em termos de estatística, o maior vitorioso no Campo da Jaqueira durante os 20 anos de trajetória foi o Santa Cruz, com 85 vitórias em 142 jogos disputados. Ao todo, 20 clubes jogaram no estádio e a rede balançou, nada mais nada menos que 2406 vezes. 

Para além do estádio

A efervescência característica do estádio se deu, sobretudo, porque unia, para além de diferentes clubes, gente de todas as idades, públicos e classes. Um ponto que deu ar de centralidade para o campo da Jaqueira, de acordo com o jornalista esportivo Lenivaldo Aragão, foi sua localização.  "O estádio abraçou o futebol amador pernambucano,  principalmente porque o campo era localizado em uma área central do Recife. Tínhamos os bondes que, na época, conectavam o centro à Jaqueira. Estávamos bem servidos", conta. A falta de arquibancada era compensada pelos piqueniques que os espectadores faziam ao redor do gramado para assistir aos jogos. Times tradicionalmente conhecidos hoje, como Náutico, Santa Cruz e Sport, disputaram partidas no Campo da Jaqueira, 'em pé de igualdade', dentre outros clubes, contra Tramways, Locomoção, América e Torre.  

Prova disso é o Tramways, que triunfou no Campo da Jaqueira de maneira memorável. Clube dos donos que administravam a rede elétrica de bondes do Recife, The Pernambuco Tramways & Power Company Limited, foi protagonista de um feito histórico que jamais se repetiu na história do futebol pernambucano. Conquistou o bicampeonato de forma invicta nos anos de 1936 e 1937, do Sport em ambos os anos.