Árbitro relata confusão de organizadas em súmula do jogo entre Cabense e Ferroviário

Se por um lado as autoridades responsáveis pela organização e pela segurança tentaram minimizar a briga entre facções organizadas no jogo entre Ferroviário e Cabense, no último domingo, no estádio Gileno de Carli, no Cabo de Santo Agostinho, pela Série A2 do Pernambucano, quem presenciou todo o episódio descreveu cenas dignas de uma praça de guerra. Na súmula da partida, o árbitro Thiago Nascimento relatou com detalhes toda a violência acontecida no local. Pessoas que estiveram no estádio ouvidas pelo Superesportes também descreveram o terror vivido antes mesmo de a bola rolar.

[SAIBAMAIS]“Foram 10, 15 minutos de puro terror. Trabalho com futebol, vou a jogos aqui no Cabo há muitos anos e nunca vi uma coisa dessas. Foram muitas bombas, pedras, garrafas. A polícia entrou dando tiro para cima para dispersar a briga. Desisti de ficar para o jogo e não sei quando vou voltar”, afirmou Tiago Santoro, professor de escolinha de futebol há 17 anos, que esteve no estádio. “Aquilo virou uma praça de guerra. Eram organizadas, sim, com camisa, faixa, bandeira”, relatou o também professor Bartolomeu Lima, que afirmou ter o vidro do carro quebrado na confusão. “Vou à Federação (Pernambucana de Futebol) para ser ressarcido”, prometeu.

Os relatos batem com o que foi descrito na súmula do jogo. No documento, a arbitragem relata o início da briga, com um ataque da torcida do Ferroviário, que já estava dentro do estádio, à da Cabense, ainda de fora. Os objetos utilizados na confusão foram registrados também: “Pedras, rojões (bombas caseiras feitas com bolas se sinuca), garrafas e diversos barrotes”, além de “fogos de artifício”. O número de policiais presentes também foi colocado. “Até o momento, só havia dois policiais no campo de jogo”, escreveu. A confusão só foi controlada com a chegada de mais 30 policiais.

Baseado na súmula, foi feita uma denúncia no Tribunal de Justiça Desportiva. Segundo o presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho, deve haver punição aos clubes. Ele não descartou, também, a possibilidade de interdição do Gileno de Carli. “O Tribunal é quem vai dizer”, disse o dirigente, que não vê o episódio como um indício de que a violência entre organizadas também afeta outras cidades, além da capital. “Foi isolado. Isso aconteceu porque são dois times de lá (do Cabo de Santo Agostinho). Em outros jogos isso não acontece”.

O que a PM disse
A Polícia Militar também minimizou a briga. A assessoria informou apenas que foi registrado um “tumulto”, contornado pela polícia e que “o jogo transcorreu normalmente em seguida”. Foi comunicado, ainda, que não houve nenhuma ocorrência de vítimas e que ninguém foi preso.

Leia abaixo a descrição completa do árbitro da partida:

INFORMO QUE FALTANDO 5 (CINCO) MINUTOS PARA A PARTIDA, INICIOU UM CONFRONTO GENERALIZADO ENTRE AS TORCIDAS ORGANIZADAS DAS EQUIPES MANDANTE
E VISITANTE. TAL FATO TEVE INICIO COM A TORCIDA DO MANDANTE QUE SE ENCONTRAVA ABAIXO DAS CABINES DE RÁDIO E TV, ATIRANDO PEDRAS E ROJÕES NA
TORCIDA DA EQUIPE VISITANTE QUE SE ENCONTRAVA FORA DO ESTÁDIO. EM SEGUIDA, HOUVE UMA INVASÃO DO ESTÁDIO PELA TORCIDA DA EQUIPE VISITANTE QUE SE
ENCONTRAVA ATRÁS DA META DO LADO ESQUERDO DAS CABINES DE RÁDIO E TV QUE ADENTROU AO CAMPO DE JOGO SE DIRIGINDO A TORCIDA DA EQUIPE
MANDANTE, ATIRANDO PEDRAS, ROJÕES, GARRAFAS E DIVERSOS BARROTES. ACUADA, PARTE DOS TORCEDORES DA EQUIPE MANDANTE PULOU O MURO DA
ARQUIBANCADA PARA FORA DO ESTÁDIO FUGINDO DO CONFRONTO E OUTRA PARTE CONTINUOU EM CONFRONTO COM A TORCIDA VISITANTE, REVIDANDO AS
AGRESSÕES ATIRANDO PEDRAS, GARRAFAS, FOGOS DE ARTIFÍCIOS E ROJÕES (BOMBAS CASEIRAS FEITAS COM BOLAS DE SINUCA) NA DIREÇÃO DA TORCIDA VISITANTE
QUE ESTAVA DENTRO DO CAMPO DE JOGO. ATÉ O MOMENTO SÓ HAVIA 2 (DOIS) POLICIAIS NO CAMPO DE JOGO. A CONFUSÃO COMEÇOU A CESSAR NO MOMENTO EM
QUE O POLICIAMENTO ADENTROU AO CAMPO DE JOGO, DISPERSANDO AS TORCIDAS CONFLITANTES. APÓS A CONTENÇÃO FOI NECESSÁRIO AGUARDAR 50 (CINQUENTA)
MINUTOS PARA QUE FOSSE TRANQUILIZADO O TUMULTO E O EFETIVO POLICIAL, NECESSÁRIO PARA GARANTIR A SEGURANÇA DA PARTIDA, CHEGASSE AO ESTÁDIO.
INFORMO AINDA QUE APÓS 30 (TRINTA) MINUTOS DE PARALISAÇÃO FUI INFORMADO PELO SR.º CAPITÃO BRAINER, COMANDANTE DO POLICIAMENTO NO LOCAL, QUE
PARA INGRESSAR AO ESTÁDIO, A TORCIDA DA EQUIPE VISITANTE TERIA ARROMBADO UM DOS PORTÕES DE ACESSO DO MESMO, BEM COMO HAVERIA DANIFICADO UMA
DAS VIATURAS OFICIAIS DO POLICIAMENTO.
A PARTIDA FOI INICIADA AS 15H50, APÓS A CHEGADA DE CERCA DE 30 (TRINTA) HOMENS DA POLICIA MILITAR DE PERNAMBUCO, SOBRE O COMANDO DO SR.º CAPITÃO
BRAINER.
INFORMO TAMBÉM QUE AOS 14 (QUATORZE) MINUTOS DO 1º TEMPO HOUVE UMA PARALISAÇÃO DE 1 (HUM) MINUTO NA PARTIDA EM DECORRÊNCIA DE UM NOVO
PRINCIPIO DE TUMULTO ENTRE AS TORCIDAS DAS EQUIPES MANDANTE E VISITANTE, QUE FOI RAPIDAMENTE DISPERSADO PELOS POLICIAIS PRESENTES.
SEGUE COM O DELEGADO DA PARTIDA, O SR.º SÉRGIO PEREIRA, FOTOS DAS PEDRAS, BARROTES, BOMBAS E FOGOS UTILIZADOS NO CONFRONTO

Para quem pensa que a violência das organizadas se resume aos grandes. Isso ai foi em Cabense x Ferroviário pela A2 pic.twitter.com/hF9g9gR3ac

— Joao de Andrade Neto (@jdeandradeneto) September 18, 2016