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Lições dos tempos em que o Peru rivalizava frente à frente com o Brasil

Rua São Jorge, 777: saiba por que o endereço do ginásio em que a seleção peruana feminina de vôlei fez história em 1983 pode inspirar Guerrero e companhia na inédita final com a equipe de Tite

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São Paulo — O Peru tem quatro medalhas na história dos Jogos Olímpicos de verão: três no tiro esportivo e uma no vôlei feminino — esporte coletivo em que o país vizinho mais fez o Brasil sofrer. Domingo, às 17h, no Maracanã, os homens de Ricardo Gareca tentarão repetir com os pés o que as mulheres fizeram três vezes com as mãos em território verde-amarelo: conquistar o título sul-americano e calar mais que um ginásio ou estádio de futebol – uma nação inteira.
 
Quem caminha pela Rua São Jorge, 777, em Tatuapé, talvez não tenha noção de um dos grandes feitos do Peru. Maior rival do Brasil no vôlei feminino nos anos 1980 e 1990, o adversário silenciou o Ginásio do Parque São Jorge, em 6 de agosto de 1983, com um triunfo por 3 sets a 0 na decisão do Sul-Americano. Para se ter ideia da rivalidade, os dois países são os únicos vencedores do torneio. São 20 títulos do Brasil e 12 do Peru.
 
O estrago causado pelo triunfo do timaço liderado pelo revolucionário treinador sul-coreano Man Bok Park naquele ano seria bem maior. O torneio disputado nos ginásios da Hebraica e do Corinthians serviu como Pré-Olímpico. Logo, a geração de Isabel e Vera Mossa estava fora dos Jogos Olímpicos de Los Angeles-1984. Graças ao boicote do Leste Europeu e de Cuba ao evento nos Estados Unidos, a Seleção de Ênio Figueiredo participou da competição como convidada no lugar da União Soviética, medalha de ouro quatro anos antes, em Moscou-1980.
 
“O Peru teve uma geração brilhante. O vôlei alcançou uma popularidade impressionante no país. Disputei muitas partidas com o ginásio lotado em Lima, uma idolatria. Era, ao lado do Brasil, a seleção mais forte da América do Sul. Consequentemente, sempre estava em jogo muita coisa”, lembra a ex-jogadora e treinadora Isabel Salgado.
 
A decisão de 1983 teve momentos de tensão. Torcedores atiraram laranjas e objetos nas peruanas durante o jogo na tentativa de intimidá-las. As adversárias limitavam-se a pedir ao árbitro que paralisasse a partida para limpar a quadra. Irônicas, até dançavam o samba batucado pelos brasileiros nas arquibancadas. “Jogamos como se estivéssemos em nossa terra”, disse a levantadora Cármen Teresa em entrevista à revista Placar. Orgulhoso do time, Man Bok Park até alfinetou o rival. “A condição física do Brasil é superior, mas acho que falta um cérebro para o time, alguém que saiba virar o jogo”, criticou.
 
A conquista de 1983 não foi a única do Peru no Brasil. Elas faturaram o título em 1967, em Santos, com triunfo por 3 sets a 1. Curitiba também testemunhou a força do vôlei peruano no último dos 12 títulos do país na modalidade, em 1989. 

 

Influência de técnico estrangeiro

Assim como nesta Copa América, o sucesso da seleção feminina de vôlei teve influência de treinadores estrangeiros. O sul-coreano Man Bok Park colecionou sete medalhas de ouro no Sul-Americano e foi responsável pela prata nos Jogos Olímpicos de Seul-1988. O técnico havia acompanhado como assistente a revolução no vôlei do país liderada pelo japonês Akira Sato. A geração de Cecília Tait, Rosa García, Gina Torrealva e outras estrelas é amada no Peru.
 
“Era até engraçado porque o tipo físico das atletas muitas vezes não era ideal para a prática do vôlei, mas elas superavam isso. Tirando a Cecília e Gabi, que eram altas. O estilo de jogo era muito asiático em função dos técnicos. O jogo delas era muito bonito”, recorda Isabel Salgado.
 
Ricardo Gareca pode se inspirar em Akira Sato ou em Man Bok Park para provocar um Maracanazo no domingo. Ao contrário da seleção feminina de vôlei, o Peru poucas vezes amedrontou os pentacampeões no futebol. O retrospecto aponta 44 jogos, com 31 vitórias do Brasil, quatro do Peru e nove empates. Apenas dois triunfos em gramados tupiniquins.
 
Em 1975, o Peru eliminou o Brasil da Copa América nas semifinais. Na partida de ida, Teófilo Cubillas e companhia silenciaram o Mineirão, em Belo Horizonte, com vitória por 3 x 1. Na volta, os peruanos perderam por 2 x 0, mas avançaram à final contra a Colômbia graças a um inusitado sorteio após o placar agregado terminar 3 x 3. Dez anos depois, o adversário derrotou o Brasil em um amistoso no velho Mané Garrincha, em Brasília, por 1 x 0.
 
O resultado recente mais traumático, no entanto, ocorreu em junho de 2016, em Boston (EUA), durante a Copa América Centenário, quando o Peru bateu o Brasil por 1 x 0, com um polêmico gol de mão, eliminando a equipe de Dunga da competição. O treinador seria demitido em seguida, abrindo caminho para Tite assumir como técnico da Seleção. Portanto, mais uma vez os peruanos podem definir o futuro do comando do time brasileiro. 
 
Embora o Brasil seja favorito, principalmente após o triunfo por 5 x 0 na Arena Corinthians, na última rodada da fase de grupos, Isabel Salgado adverte com a experiência de quem conhece o espírito do adversário quando enfrenta a Seleção. “Só de eles chegaram à final já é incrível, mas é aí que mora o perigo. Eles são franco atiradores. Vou acompanhar o jogo de casa, porque no estádio não vai dar, o ingresso está muito caro”, corneta Isabel. (MPL)

MEMÓRIA
Jogos na Copa

Os jogos mais importantes entre Brasil e Peru foram na Copa do Mundo. Em 1970, o Brasil venceu por 4 x 2 nas quartas de final, em Guadalajara, no México. Rivellino, Tostão (2) e Jairzinho marcaram para o Brasil; e Gallardo e Cubillas descontaram. Em 1978, triunfo verde-amarelo por 3 x 0 com dois gols de Dirceu e um de Zico. Depois daquela partida, o Brasil empatou por 0 x 0 com a Argentina na Batalha de Rosário e dependeu do resultado entre Argentina e Peru para avançar à semifinal. Os donos da casa golearam o Peru por 6 x 0. O resultado da partida é questionado até hoje. A Argentina venceu e avançou à semi e foi bi.