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Cinco vezes Barça. O futebol agradece
Berlim – Nos últimos oito anos, o Barcelona havia conquistado quatro Ligas dos Campeões da Europa, e ontem conquistou mais uma – sobre a Juventus, com superioridade menor do que se esperava. Vou dizer aqui o que dizem os catalães: existe o Barcelona antes e depois de Ronaldinho Gaúcho, pois foi ele o grande responsável pela mudança de conceito nas divisões de base do clube. E havia um sucessor para ele, trabalhado, lapidado, preparado para brilhar, chamado Lionel Messi. Se R10 foi o responsável pela conquista em Paris, quando o argentino era banco, Messi é o grande maestro das três últimas, em Roma, Londres e Berlim. É bem verdade que ele não fez gol na decisão de ontem, mas suas arrancadas e dribles deixaram os italianos confusos, e quando chutou forte, Buffon rebateu justamente nos pés de Suárez, que confirmou o segundo gol. Curiosamente, foi num momento em que a Juve era superior. E, para fechar, nada melhor do que o terceiro gol, marcado por Neymar, como diriam os narradores, ao apagar das luzes.
Eu não tinha dúvidas da vitória do Barça (foto), mas a Juventus foi guerreira e, no segundo tempo, viveu seu grande momento, quando o árbitro deixou de marcar pênalti em Pogba, cometido por Daniel Alves. Confesso que torci para ele ter marcado, pois queria ver Buffon levantar a Copa Uefa pela primeira vez em sua carreira. Mas os deuses do futebol têm mesmo que privilegiar o futebol-arte, e quem tem Messi, Suárez e Neymar não pode mesmo deixar de vencer. Uma final de Champions League é uma coisa mágica. Já vi o Chelsea, bem mais fraco, ganhar nos pênaltis do Bayern, em sua casa, em 2012. O Bayern massacrou, mas cedeu o empate no fim. Ontem, pensei que isso poderia ocorrer novamente. Como disse, até torci por isso, mas não seria justo. O Barcelona, que foi de R10 e hoje é de Messi e Neymar, é o resultado de tudo com o que sonho para o futebol brasileiro. Precisamos ter uma escola, um padrão de jogo, desde a base até os times principais. Isso se chama disciplina e trabalho.
Na Europa, há vários times com suas escolas. Por isso, volta e meia ganham Barcelona, Real Madrid, Bayern, Manchester United.
O futebol é ingrato. Romário e Ronaldo jamais ganharam Champions League. Neymar, aos 22 anos, já fatura sua primeira, e com certeza ganhará outras. O Real Madrid, que tem o dobro das taças do Barça na competição, que se cuide. E vale lembrar que só na década de 1960 o time de Madri ganhou cinco. Ou seja, podemos dizer que na “era moderna” está empatado com o Barça, com cinco conquistas para cada equipe. O estádio Olímpico de Berlim tremeu, vibrou, balançou, aplaudiu e cantou com a performance do time catalão. Faltou o gol dele, que para mim, ainda é o melhor do mundo: Messi. Aliás, vou registrar o que tenho pensado ultimamente: Messi é o melhor jogador argentino de todos os tempos, superando Maradona. Sim, sei que Don Diego ganhou Copa do Mundo. Não me importa. O que esse Messi faz com a bola é coisa de outro planeta. Cola a bola nos pés e ninguém consegue tomá-la.
Sei que ontem foi dia de Atlético x Cruzeiro, no Independência, e, ao ler esta coluna, o torcedor do Galo vai entender muito bem o começo dela, pois também existe um Atlético antes e depois de Ronaldinho Gaúcho. Ele divulgou o time para o mundo, ganhou a Libertadores e deu vida nova ao clube. Pena que já quase em fim de carreira, mas será eternamente lembrado como o R10 que mudou a cara do Galo e que fez sua torcida ficar ainda mais apaixonada. É disso que precisamos no Brasil. Da formação de novos craques, novos ídolos, uma geração que nos devolva o prazer e o orgulho de ir a campo e ver um espetáculo como o de ontem. Estive na arquibancada várias vezes ao lago do meu amigo Francisco Tomás, vi torcedores da Juventus e do Barcelona lado a lado com suas camisas, cada um gritando o gol de sua equipe. Não vi brigas, animosidades ou coisa parecida. Vi um sentimento de civilidade, de percepção de que o futebol é exatamente aquilo: emoção, lazer, prazer, respeito.
Esta foi a minha décima primeira final de Liga dos Campeões da Europa. Ano que vem a decisão será em Milão. Foi bom ver um time italiano voltar a uma final, coisa que não ocorria desde 2007, quando o Milan faturou o caneco. O futebol no país da Bota também anda maltratado e desacreditado, com escândalos e manipulações de resultados em algumas divisões. Isso é péssimo. Bom, voltando ao jogo, parabéns ao Barcelona e a sua gente. Messi e cia escreveram mais um capítulo mágico do futebol mundial. Sonho em ver o Brasil chegar perto dessa organização um dia. E, para fechar, aquele hino da Uefa é de arrepiar, emocionante e tão marcante quanto este torneio, que considero o melhor do mundo. Obrigado à Champions League por existir e nos mostrar que ainda é possível sonhar com o futebol de verdade. Até Milão, ano que vem!