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Mãe diz que Fab Melo planejava retomar carreira: "Uma morte estúpida, inesperada"
Corpo do ex-jogador da NBA foi sepultado no domingo
Primeiro mineiro a atuar na NBA, a principal liga de basquete do mundo, para a qual foi selecionado em 22º lugar, o atleta viveu uma trajetória de altos e baixos no esporte. Apontado como um pivô com muito potencial, Boleta, apelido pelo qual o jogador de 2,13m era conhecido, começou a carreira aos 14 anos e, depois de passagem rápida pelo Olympico, de Belo Horizonte, e pelo Paulistano, de SP, migrou para o basquete universitário norte-americano.
[SAIBAMAIS]“Ele era ainda um menino, lutávamos com falta de recursos, mas foi corajoso e partiu em busca do maior sonho da vida. Por aqui, torcemos por ele e tínhamos muito orgulho do rapaz, que puxou a estatura do pai, Antônio Caetano de Melo, já falecido”, relatou Regina Célia.
Ela repete o que foi dito à polícia: que o jogador foi dormir na sexta-feira e, no sábado, permaneceu no quarto. À noite, disse ter encontrado o filho já sem vida. “Tudo indica que foi vítima de um ataque cardíaco fulminante”. O Samu foi acionado e constatou o óbito. Ainda de acordo com Regina, o corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML), mas não foi submetido a autópsia. A Polícia Militar confirmou a inexistência de sinais de crime ou violência. Ela revela que perdeu outro filho, chamado Luís, após ataque cardíaco. Ele havia sido diagnosticado com cirrose. Além da mãe, o jogador, solteiro, deixa duas irmãs, Míriam e Fabiana.
PRECOCE Treinador de basquete por 40 anos, Elmon Rabelo, hoje aposentado, descobriu Fabrício Melo em 2005. “Um gigante de 15 anos, 2,09m de estatura e corrida fácil”, descreve. O técnico não só o transformou em jogador profissional, mas o abrigou por quatro anos em sua casa, no Bairro Cruzeiro, em BH, na tentativa de formá-lo como homem. Por algum tempo, fez o papel de pai que o garoto nunca teve – o biológico faleceu quando ele era bebê. “Queria que estudasse, tivesse disciplina. O Olympico pagava as despesas e eu mostrava o caminho certo. O objetivo era levá-lo à NBA e deu certo”.
Abalado pela morte prematura, o técnico lembra que quando Fabrício partiu para os Estados Unidos, em 2010, para estudar e atuar pela Universidade de Syracuse, em Nova York, logo se destacou. E no segundo ano de contrato foi draftado pelo Boston Celtics para jogar a NBA. “Foi o 22º a ser escolhido na temporada 2012, comprovando o seu nível alto. Para se ter uma ideia, Anderson Varejão foi o 30º em 2004, enquanto Leandrinho foi o 28º em 2007”.
Contrariando todas as expectativas, Fab Melo não vingou na NBA. O que teria ocorrido? Para Elmon Rabelo, o sucesso e más companhias podem ter desviado o jogador. “Ele era um fio desencapado. Talvez tenha ido para a NBA antes da hora. Devia ter cumprido os três anos no universitário para chegar mais maduro à liga principal. Mas ele quis ganhar dinheiro. Na universidade, a bolsa era de US$ 2,8 mil. No Boston, passou a ganhar US$ 200 mil”, conta.
O treinador conta ainda que a partir da liga houve mudança de comportamento, possivelmente pela falta de estrutura emocional. Segundo o ex-técnico, Fab já não queria ouvir seus conselhos “de pai”. Nos últimos clubes que defendeu no Brasil – Paulistano, Liga Sorocabana e Brasília – , Fab Melo alternou altos e baixos. O pedido de rompimento de contrato com o clube candango, no fim do ano passado, foi mais um sinal de que estava fora do seu normal. “Ninguém pede para terminar um contrato por causa de distensão na panturrilha. Ele não estava bem. Infelizmente, soube que andava abusando de bebida. Problema no coração ele nunca teve, tanto que foi atleta. Algo estava errado”, aponta.
A TRAJETÓRIA
2005 – Começa a jogar, aos 14 anos, no Projeto Basquetebol do Futuro, em Juiz de Fora e integra a Seleção Mineira Infanto
Já em Belo Horizonte, passa pelo Olympico e se muda para São Paulo, contratado pelo Paulistano, onde permanece até 2009
2010 – Muda-se para os Estados Unidos e ganha projeção ao defender o Syracuse Orange no basquete universitário, com médias de 7,8 pontos e 5,8 rebotes
2012 – É selecionado pelo Boston Celtics no draft da NBA, em 22ª posição (ótima avaliação), e torna-se o primeiro mineiro a atuar na liga
2012 – Faz só seis partidas com a franquia de Boston, marcando sete pontos, três rebotes e dois bloqueios em um total de 36 minutos. É enviado para a liga de desenvolvimento
2013 – Ainda nos Estados Unidos, defendeu Maine Red Claws, Texas Legends, Memphis Grizzlies e Dallas Mavericks, mas não conseguiu se firmar na NBA
2013 – Na última oportunidade na NBA, pelo Dallas Mavericks, não chega a atuar. Corta vínculos com a equipe
2014 – Depois de rápida passagem pelo Caciques de Humacao, de Porto Rico, volta para o Brasil
2015/16 – Não se firma em passagens por Paulistano, Liga Sorocabana e Brasília, com o qual tinha contrato até o fim desta temporada. Pede dispensa para tratar lesão na panturrilha direita
2017 – Sem contrato desde novembro de 2016, morre em Juiz de Fora. O ex-pivô do Boston Celtics estava na cidade natal para tratar da lesão na panturrilha direita