A drag queen pernambucana Poseidon já costurou para nomes como Madonna e Paul McCartney
No corpo, a cantora, compositora e atriz Lady Gaga carregou um pouco do talento pernambucano no maior show de sua carreira, realizado no último sábado (3), na Orla de Copacabana. Diante de uma plateia de 2,1 milhões de pessoas, segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, ela vestiu pelo menos três figurinos costurados pela drag queen recifense Poseidon, de 30 anos, que vem construindo carreira como costureira, atriz e DJ na noite carioca há 11 anos.
Aos 19 anos, a drag queen deixou o Recife para realizar o sonho de estudar teatro na Escola de Atores Wolf Maia e na renomada Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). “Eu comecei a fazer teatro na escola e depois no Teatro Valdemar de Oliveira. Meus pais sempre me apoiaram, só que chegou um momento em que eles queriam que eu estudasse algo mais rentável do que arte”, lembra.
Filha do vereador do Recife Wilton Brito (PSB), ela garante, contudo, que o apoio da família foi determinante para a mudança para o Sudeste. “Não teria conseguido sem meus pais. Eles sempre me aceitaram como sou, o preconceito sempre veio da sociedade. Na escola, eu era o único menino que gostava de dançar e sempre sofria bullying”, ressalta.
Com os primeiros singles de Gaga, no entanto, Poseidon encontrou a normalidade entre os diferentes. “As letras das músicas dela me ajudavam muito, por mais que eu não sofresse em casa, sofria na rua. Cresci ouvindo que eu poderia ser normal do jeito que eu sou. Isso para mim foi essencial”, lembra.
Antes dela, contudo, as divas do tradicional teatro pernambucano já inspiravam a carreira da drag queen. “A Trupe do Barulho, Gil Araújo, Vagiene Coqueluche e Sharlene Esse, que é um amor. Eu ia para o teatro assistir elas, foram minha referência”, conta.
Do Teatro de Revista pernambucano, marcado pelo humor misturado aos números musicais e à crítica de costumes, ela herdou a comicidade de suas apresentações. “Eu queria estar com elas, porque sou uma drag queen de comédia. Elas me inspiram demais”, destaca.
Poseidon e colega em espetáculo cover de Lady Gaga
De acordo com ela, o convite para trabalhar no show deste ano veio apenas dez dias antes de sua realização. “Quase tive um piripaque. Comecei a costurar por causa da carreira como drag, porque a gente não tem como pagar alguém pra fazer isso. Trabalho com shows internacionais há três anos, mas nunca tinha divulgado, como fiz dessa vez”, celebra.
No currículo, ela já carrega contribuições em shows de artistas como Alicia Keys, Lana del Rey, Taylor Swift, Katy Perry, RBD, Paul McCartney e Madonna. “Lady Gaga tem um estilista, então os croquis já vieram prontos. A gente não criou nada do zero, mas, como é uma turnê, a roupa veio dos Estados Unidos e precisava de ajustes”, explica.
No Brasil, a equipe de costura contou com outras cinco pessoas. “Do vestido verde que ela usou no começo do show, tivemos que fazer a faixa presidencial inteira. Foi surreal, porque não é todo artista que deixa a gente ter acesso aos figurinos”, coloca.
Durante as sessões de trabalho, veio um dos momentos mais marcantes de sua vida. “Ela passou por nós, muito simpática, deu um sorriso e um tchauzinho. O coração acelerou, perdi a cor”, lembra. Poseidon conta que só viu a cantora vestida nos figurinos durante o show. “Assisti da área VIP. Até ela subir no palco, eu ainda estava sem acreditar que eu estava ali. Quando ela subiu no palco, com as roupas, os bailarinos, a multidão gritando, eu falei: ‘Cara, aconteceu. Realizei mais um sonho’”, completa.