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Filme pernambucano 'A Vida Secreta de Meus Três Homens' é o mais marcante da 28ª Mostra de Tiradentes

Misturando ficção e documentário com intensa carga emocional, cineasta Letícia Simões investiga o passado de três figuras masculinas centrais na sua família

Iluminar, transformar e ressignificar a dor a partir dos códigos da ficção e do documentário está se tornando a tônica do cinema de Letícia Simões, que apresentou, na última sexta-feira (31), o seu novo longa, A Vida Secreta de Meus Três Homens, na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O filme é uma das duas produções pernambucanas que integram a Mostra Olhos Livres e consegue o raro equilíbrio entre o experimentalismo e um envolvimento emocional orgânico da plateia, o que foi possível notar pelos entusiasmados aplausos após a sessão na cidade histórica de Minas Gerais.

Neste projeto, a diretora e roteirista convoca três figuras importantes da sua história para, através de uma investigação do passado delas, tecer um panorama histórico do país. O primeiro é Arnaud (Guga Patriota), adolescente que teve participação no cangaço; o segundo é o pai de família Fernando (Giordano Castro), que colaborava com o serviço de inteligência da ditadura militar, e o terceiro é o fotógrafo Sebastião (Murilo Sampaio), cuja experiência como homem negro e gay inclui uma irremediável tragédia. 


Inquieta com a sua ancestralidade e cada vez mais corajosa em mergulhar nas contradições dela, Letícia coloca o elenco central na mesa (às vezes literalmente) para um franco diálogo entre o que pode ser remediado pelas desconstruções do presente e as feridas que jamais vão sarar. Nash, Guga, Giordano e Murilo põem seus corpos e olhares à disposição dessas figuras defendendo-os como se fossem suas próprias narrativas. Destaca-se o confronto de reflexões entre Nash e Giordano - representando a diretora e seu pai - pelo modo como representa uma arquitetura incômoda de poder entre pai e filha, homem e mulher, passado e presente.

Ao se dividirem entre documentos reais e um estúdio quase limpo, com uma iluminação controlada e auxiliada por um imersivo trabalho sonoro, as imagens evocam uma teatralidade que reforça o caráter alegórico daqueles atores. O formato híbrido (ou de "docuficção") tem sido um dos mais recorrentes na Mostra de Tiradentes, mas A Vida Secreta de Meus Três Homens evita truques e experimentações fáceis para fugir do drama. Pelo contrário: ele olha no espelho de seu próprio processo por tempo suficiente para que a essência de seus temas venha à superfície.
 
Em entrevista exclusiva concedida ao Viver, a diretora e o elenco falam sobre os assuntos delicados trabalhados na produção e as interceções encontradas entre eles para dar vida a esse passado tão cheio de arestas. 


Leia a notícia no Diario de Pernambuco