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Ezra Miller dá seu melhor no papel, mas 'The Flash' parece sempre uma versão publicitária de si mesmo

Em 'The Flash', novo episódio do Universo Cinematográfico da DC, Barry Allen (Ezra Miller) decide usar seu poder de correr além da velocidade da luz para voltar no tempo e alterar o evento mais traumático de sua vida, o assassinato de sua mãe – que causou ainda a injusta condenação de seu pai. O preço da alteração não sai como previsto e o protagonista se vê emaranhado em consequências trágicas para diferentes mundos. Com ajuda de personagens dessa nova realidade, entre eles a sua versão não-traumatizada e o Batman de Michael Keaton, ele tenta consertar o efeito que causou.

Escrito por Christina Hodson (adaptado da HQ Flashpoint), o roteiro de 'The Flash' não tenta inovar a clássica premissa de viagem temporal e faz o possível para descomplicar paradoxos e questionamentos possíveis dela – o que evita explicações excessivas e ajuda o filme a não perder o ritmo quando se estabelece o conflito central. É tudo bastante elementar de se entender e o tratamento é adequadamente cartunesco.

Dirigido por Andy Muschietti (Mama e It), um de vários cineastas conhecidos pelo sucesso em terror e recrutados para filmes de super-herói, 'The Flash' tem seu trunfo no drama que envolve as versões de Barry devido principalmente à atuação de Miller. O ator consegue a façanha de fazer o humor genérico do texto soar como mecanismo de defesa para o personagem esconder suas fragilidades – e a cena climática do terceiro ato é reveladora da sua aptidão (e do filme) para o aspecto emocional.

A obsessão do público pela verossimilhança deve provocar críticas à artificialidade dos efeitos digitais, que alternam entre ação física/direta e exagero/psicodelia. Mas isso não se torna um problema porque a direção não busca realismo em nenhum elemento da encenação, seja no uso de lentes, luz e cenários. Visualmente, aliás, é até mais bem iluminado do que exemplares recentes do gênero.

O que arruína boa parte da experiência de 'The Flash' é a insistência em tratar as aparições de personagens icônicos como atração central da narrativa. Apesar da boa premissa, ele foca nesse valor nostálgico das poses e frases de efeito (especialmente no Batman de Keaton) e não na criação de sequências marcantes para chamar de suas. O filme desperdiça seus estímulos gráficos em concessões de estúdio que soam como piscadelas cínicas dos produtores. É uma sensação constante de um filme correndo o tempo todo, lotado de iscas e muito movimento, mas que, curiosamente, avança de verdade em quase nada.

Talvez esses filmes voltem a ser sobre suas próprias histórias e não apenas um festival de acenos a fatores externos, mas, por ora, 'The Flash' representa mais uma overdose de chamarizes publicitários sufocando evidentes méritos artísticos. 

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