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Frederico Pernambucano de Mello relança livro sobre estética do cangaço

O fascínio que o cangaço exerce sobre o historiador Frederico Pernambucano de Mello rendeu obras das mais importantes sobre o tema na literatura nacional. Fruto de décadas de pesquisas, viagens e encontros, é dele títulos emblemáticos como Guerreiros do Sol: Violência e Banditismo no Nordeste do Brasil, Apagando Lampião: Vida e Morte do Rei do Cangaço e Estrelas de Couro: a estética do cangaço. Este último, até então, era uma raridade, com uma alta procura e poucas edições disponíveis no mercado, chegando a casa dos mil reais o exemplar.
Mas, a partir desta quarta-feira, esse cenário muda com a chegada da quarta edição do título, publicado pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), com evento de lançamento marcado para 18h no Museu Cais do Sertão. “É uma edição que chega em uma hora certa, para reconciliar o autor com seu público, do litoral ao sertão, se tornando mais acessível, principalmente para quem não tem uma pujança econômica para adquirir os exemplares que estavam no mercado. É uma edição nova que é quase como uma edição original, com um tratamento gráfico, algo muito importante para um livro sobre estética, que me deixa muito orgulhoso”, afirma Frederico, em entrevista ao Viver.
São 293 páginas de um mergulho intenso na produção estética, simbólico e utilitária que o cangaço deixou como legado no imaginário nordestino e nacional. Pernambucano de Mello descreve o jeito do cangaceiro estar no mundo, com suas vestes carregadas de apelo estético, como dignas daquelas que o samurai e o cavaleiro medieval marcaram visualmente suas representações históricas. Ele vai às origens desta criação e da existência em si do cangaço, partindo ainda dos primeiros anos da colonização do país, para se debruçar sobre a visualidade do cangaço com detalhes de cada tecido e ornamento que revestiam seus corpos.
“Quando comecei a estudar a figura do cangaceiro, os jornais colocavam os relatos sobre esses grupos na parte de casos extraordinários, ao lado de bezerros de duas cabeças e meteoritos. Era como se o cangaço fosse algo externo, que não se conciliasse com a história da região e do país. Mas ele é um tema brasileiro por excelência, um fenômeno popular que deve ser estudado como os quilombos e os levantes indígenas ou os brancos e mestiços. Nessa minha pesquisa, fui recebendo muitos objetos de cangaceiros e acabei também notando o primor estético, nas composições harmoniosas, nos símbolos, nas cores. Em 1997, fui procurado pela organização da Bienal de São Paulo para desenvolver esse estudo estético para uma exposição de 500 anos do Brasil e aí começou a aventura que resultou nesse livro”, relata Frederico.
O trabalho aprofundado do historiador o tornou uma referência na recriações imagéticas do cangaço nas artes, cuja força estética e os contornos épicos e violentos das ações dos bandos sempre foram um prato cheio para os artistas discutirem e representarem o país. Atualmente, Frederico é consultor de uma vindoura série da Globoplay, batizada de Guerreiros do Sol, título emprestado de seu livro. O projeto conta com 30 capítulos e tem previsão de lançamento em 2023.
“As correrias do cangaço têm o poder de representar o Brasil dentro daquela fabulação épica que você encontra nos romances de cavalaria, por exemplo. Então quando o Brasil busca um épico popular, seja no teatro, na TV, no cinema, acaba encontrando o cangaço, a partir da aventura, dos sentimentos humanos envolvidos e também da crueldade. Essa série era para ter 14 capítulos, mas a diretoria da Globo pediu 30. A gente vê que é um tema muito explorado, mas ainda não esgotado. Ou melhor, inesgotável”, conclui Frederico.
O livro já está à venda no site da Cepe e em seus pontos de vida. Ele custa R$ 120 (versão física) e R$ 48 (ebook).