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Aos 81 anos e com mais de 600 composições, recifense Anastácia recebe homenagem

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Foto: Divulgação
A Rainha do Forró é a primeira a receber o Troféu Tradições, da União Brasileira dos Compositores (UBC).


Foi em um momento de “farra”, ainda aos 15 anos, que a cantora e compositora recifense Anastácia compôs a primeira música. “Eu ainda nem sabia o que estava fazendo, nem porque e nem o que viria a ser isso, mas fiz e gostei”, lembra a artista que mais tarde viria a ser conhecida como a Rainha do Forró. Hoje com 81 anos e mais de 600 composições registradas, ela é a primeira a receber o Troféu Tradições, da União Brasileira dos Compositores (UBC). A homenagem será feita nesta quarta-feira (30) durante o “arraiá” virtual, às 19h30, nas redes sociais da UBC, com participações de Zeca Baleiro, Mariana Aydar e Mestrinho. No repertório, sucessos como Xote da Gameleira, O amor de Zabelê, Tenho sede, Eu só quero um xodó, entre outros.

“É uma sensação gostosa, fiquei muito feliz e surpresa, pois nós temos inúmeros compositores maravilhosos. Foi uma maneira de me sentir incentivada e prestigiada”, celebra Lucinete Ferreira, nome de batismo de Anastácia, em entrevista ao Viver. Anastácia recebeu o título de Rainha do Forró no início da década de 1960, quando gravou o primeiro disco na Chantecler, gravadora paulista com papel fundamental na música regional.

“Me deram esse apelido quando cheguei a São Paulo. O disco estourava no Nordeste, o povo viajava para a região nos tempos de festa e, quando voltava a São Paulo, vinha com o disco embaixo do braço”, lembra. “Na época, eu fazia muitos shows em circos, e o locutor me anunciou como Rainha do Forró. Eu era a única mulher cantando forró ali naquele palco, em São Paulo, e naquele tempo”, completa, refutando qualquer vaidade com o status. “Eu não me sinto rainha de coisa nenhuma, me deram esse título porque eu sou a ‘mais velhinha do forró’, então eu curto.”

DOMINGUINHOS 
Ao lado de Domiguinhos, parceiro no amor e na música por longos anos, Anastácia escreveu mais de 250 canções. “Comecei a compor com Dominguinhos em 1967, e logo senti que estava fazendo um trabalho de muita responsabilidade. Sempre tive facilidade para compor e ele era um excelente músico e melodista. Então ‘juntou a fome com a vontade de comer’. Nosso encontro, desde aquele momento, foi muito importante pra gente e para a música brasileira”, afirma.



Dividir a vida e a estrada com o garanhuense Dominguinhos foi, para Anastácia, a melhor experiência de sua vida. “Foram 11 anos fazendo tudo juntos. Namorávamos, cantávamos e ríamos juntos. A gente vivia tanto junto que eu tirava proveito até compondo, colocando episódios da nossa rotina na música. Ele foi, sem dúvidas, o maior parceiro de estrada e de vida que eu poderia ter tido”, revela.

TRAJETÓRIA E PLANOS

A artista foi indicada ao Grammy na categoria Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa em 2018, com Daquele jeito. Em 2020, lançou DVD ao vivo comemorando os 80 anos. Antes da pandemia, estava com um novo disco engatilhado, com produção de Zeca Baleiro, mas ele teve lançamento adiado e deve ser finalizado até o fim deste ano.

“Como artista, esse período foi cruel, vejo minha renda mensal diminuir a cada dia. Se eu não faço show, automaticamente as coisas não ficam muito fáceis. Mas isso vai passar. Quero que Deus me dê saúde e vida para continuar cantando. Enquanto eu tiver condições, vou querer cantar, cantar a música nordestina, que é o que eu gosto de fazer.”

O PRÊMIO
A premiação de cantora marca a estreia do evento, que terá periodicidade anual, dando espaço a um diferente estilo musical em cada, no intuito de reconhecer artistas e movimentos artísticos que contribuíram para a formação da cultura brasileira. O novo projeto da associação busca reverenciar a música brasileira e dar visibilidade a todos os artistas, rompendo com o histórico de desvalorização e invisibilização de compositoras mulheres no Brasil.

Para o diretor da UBC, Marcelo Castello Branco, o Troféu Tradições é uma forma da UBC valorizar os movimentos regionais. "O Brasil é um país continental e a cultura regional precisa ser valorizada por sua natureza e potencialidade que muitas vezes extrapolam os limites geográficos. A música brasileira não tem limites”, afirma Marcelo.

De acordo com uma pequisa feita pela associção em maio deste ano, 79% das mulheres que atuam no mercado da música já sofreram discriminação de gênero e 53% jamais receberam valores de direitos autorais. Para a realização da pesquisa, foram ouvidas 252 profissionais do setor do sexo feminino, entre compositoras, intérpretes, musicistas, produtoras fonográficas e técnicas.