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Banda Eddie mantém identidade e reflete sobre injustiças sociais em novo disco

"Atiça é um álbum típico do Eddie", define Fábio Trummer, vocalista da banda pernambucana que lançou seu novo disco de estúdio na última sexta-feira (28). O trabalho mantém o cunho social característico da banda e flerta com a poesia, explorando um formato que foge das prateleiras convencionais dos estilos e gêneros que estão no mercado, e ainda tem o diferencial do sotaque olindense.
Com participações de Sofia Freire, Isaar, Ganga Barreto e Orquestra Henrique Dias, o disco celebra os mais de 30 anos da banda e está disponível em todos os aplicativos de música. Permeado por frevo, punk rock dos anos 1980, dance music dos anos 1990 e sons carnavalescos da última década, o álbum percorre questões sociais, anseios, dores e demais sentimentos humanos.
O trabalho é fruto de um processo intuitivo da banda. “A possibilidade de fazer música para se ouvir em casa ou no carro faz com que não sejamos fiéis ao formato das canções em show. Ter pessoas que somam com nossas ideias é sensacional”, revela o músico em entrevista ao Viver. O grupo é formado, ainda, por Alexandre Urêa (percussão e voz), André Oliveira (trompete, teclados e sampler), Rob Meira (baixo) e Kiko Meira (bateria).
Preciso levantar, Amassando amassa e Aurora dos novos tempos estão entre as 10 faixas, que reúnem críticas ao classismo, ao racismo, à desigualdade e à injustiça social, além da interferência da igreja e da Justiça em interesses pessoais. Sem deixar de lado a questão do isolamento social, o disco traz metáforas sobre olhar para frente e reagir diante dos problemas e encerra com promessas de esperança. A faixa título, Atiça, foi pensada a partir do desenho feito por uma criança da Favela da Maré sobre os tiros disparados dos helicópteros em confrontos policiais no Rio de Janeiro.
Trummer aponta o novo álbum como a continuação da busca por uma identidade própria, no intuito de habitar outros universos sonoros sem perder a essência. “Estamos sempre à procura da nossa identidade e esse álbum nos mostrou uma maturidade nossa no uso da gravação. Nossas técnicas pessoais se integraram melhor. É cedo para a gente ter uma ideia formada, mas tecnicamente já dá para perceber”, reflete, fazendo um balanço dessas mais de três décadas de estrada. “Acho que é a crença na liberdade pessoal e a busca da identidade própria.”
Para o músico, o que motiva a produção artística da Eddie é o prazer da criação. “Nesse álbum buscamos o frevo e seu efeito físico energético como uma referência, embora isso se dilua em algumas canções”, afirma. Gravado no Fruta Pão Records, por Homero Basílio, o disco foi mixado por Tostoi, Leo D. e Buguinha Dub, também responsável pela masterização.
De acordo com o vocalista, produzir o Atiça em meio à pandemia foi um aprendizado. “Fizemos e lançamos metade do álbum antes da pandemia e a outra metade durante, depois de uma pausa de sete meses. Esse tempo marca o desenvolvimento da nossa autocrítica e a fuga do que achávamos que poderia ser diferente no resultado final. Essa possibilidade foi super bem-vinda para nós, acostumados a fazer tudo de uma tacada só”, destaca.
Diferente do que se pensava no início, a pandemia parece não ter data para acabar e os impactos são sentidos de forma cada vez mais severa no campo das artes. "A crise é constante, agora mais ainda. Mas o fazer música se dá mais dentro da cabeça que fora dela. Só nos resta criar e gravar para continuar o nosso trabalho. Apesar das limitações, achamos que teríamos que lançar algo novo pra gente se ocupar neste período de restrições sociais", compartilha Trummer, e lamenta ainda não poder retornar a rotina de shows. "Não temos data de volta para tocar ao vivo e pelo visto vai demorar. Passamos a criar e trocar ideia pelo WhatsApp, gravação caseira, referências… Daí cada um gravava em casa e fomos montando as demos das faixas", completa.