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Videodança aborda a capacidade de transmutação humana em tempos de pandemia

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O desdobramento da inquietação interna da recifense Elis Costa durante o período de pandemia a levou a um mergulho artístico que desaguou na videodança Plantando o Voo. A performance será lançada no Dia Internacional da Dança, nesta quinta-feira (29), às 19h, no canal do Youtube da artista (o link será disponibilizado na bio do Instagram @eliscosta). Logo após a exibição, às 19h30, haverá uma live pelo Zoom com a equipe de criação, com ingressos gratuitos pelo Sympla, para troca de experiências com o público sobre os processos que permearam o desenvolvimento da obra. 

Elis Costa foi desenhando a dramaturgia dos movimentos do corpo que antecedem o voo a partir da sua participação na performance de longa duração chamada “COVID-A: um segundo de dança por cada vida interrompida”, a qual reuniu 30 artistas de cinco estados brasileiros nos primeiros meses da pandemia, em agosto de 2020, com transmissão via streaming. Nessa ação coletiva idealizada por Valéria Vicente, a artista desenvolveu e apresentou o experimento inédito “Estudando o voo”, atravessada por todos os sentimentos que eclodiram ao longo do isolamento social.

Aprofundando essa pesquisa iniciada no ano passado e investigando outras metodologias de composição, Elis Costa reuniu uma equipe de profissionais da Dança e do Cinema para desenvolver uma performance pensada exclusivamente para a tela, onde todos os elementos do audiovisual se movem junto com a artista, seja o enquadramento, a iluminação, a fotografia, o desenho sonoro, a profundidade de campo, a câmera, a edição, o figurino, a montagem, tudo está em contínuo movimento.

A videodança Plantando o Voo marca uma significativa transformação na trajetória artística de Elis, sendo o seu primeiro trabalho criativo autoral. Como a própria artista descreve, a obra nasce de uma proposta historiográfica de si em tempos de catástrofe e de reinvenção da esperança afetiva e corporificada. De forma simultânea e internalizada nos moveres, quatro posturas, ou quatro forças, permeiam a videodança: sentir a queda, mover o que impede de arremeter, construir ou reconhecer habilidades para sustentar-se e permanecer em deslocamento.

“Havia uma ideia de elaboração do luto, que é humano e necessário para a continuidade da vida. Para mim era muito forte a coisa do voo, as emoções, as metáforas que nós como humanos atribuímos ao ato de voar, como uma realização do supostamente impossível. Quando falo em realização penso na capacidade de continuar viva, de não morrer vítima desse genocídio. Penso nas florestas, nas águas, nos territórios. A partir do meu olhar para tudo isso que estamos vivendo, eu comecei a investigar os meus movimentos, a mergulhar para dentro de mim mesma", explica Elis Costa.

A artista explica o estudo sobre o "voo" a partir da ideia de transcedência. "Eu entendo o voo como a capacidade da gente de transcender, de transformar. Porque tudo o que voa passa por várias fases anteriores; mesmo que já nasça com asas tem um processo a ser feito. E quando eu falo de voo, eu não relaciono a nenhuma espécie animal, é uma mistura de humano com esse fenômeno todo, com esse poder de transmutação. Para mim o voo é um delírio, um mergulho nessa imaginação como um caminho, uma ponte de criação de mundos e de outras possibilidades”, detalha.