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Legado do recifense Heraldo do Monte é tema de livro do selo Brasil de Dentro
Aos 85 anos, o consagrado músico recifense Heraldo do Monte foi escolhido para protagonizar o primeiro livro do selo Brasil de Dentro, um projeto do Instituto Çarê que busca sistematizar, editar e difundir obras de compositores brasileiros em parceria com a Contraponto Editora. A coleção tem a proposta de mostrar uma riqueza presente na música nacional que não chega com tanta facilidade ao grande público. Intitulado As cordas livres de Heraldo do Monte, o livro destaca o pioneirismo de um músico que basicamente introduziu a viola de dez cordas na música popular brasileira e, como guitarrista, também desenvolveu uma linguagem singular de improvisações com referências na cultura nacional.
Lançada em dezembro com uma live no YouTube, a publicação aborda sobre vida e obra do artista com um viés histórico, narrativo, reflexivo e técnico, o que necessitou da atuação de uma equipe multidisciplinar em sua elaboração. O projeto foi idealizado por Elisa Bracher, responsável por concepção e gestão, e Ivan Vilela, da coordenação geral e direção artística. O livro foi realizado com conversas com o próprio Heraldo e o fotógrafo Sadao, que documentou parte da vida do guitarrista.
O resultado final conta com textos e pesquisas de Budi Garcia, professor de guitarra da Unicamp, e fotos poéticas de Kika Antunes. As cordas livres de Heraldo do Monte ainda conta com 58 partituras. Elas foram transcritas em maior parte por Luis do Monte, enquanto Edmilson Capelupi e Toninho Carrasqueira realizaram a revisão musical ao lado do próprio Heraldo. A publicação ainda é acompanhada por um CD, masterizado pelo técnico Maurício Cajueiro.
Criado na Mustardinha, na Zona Oeste do Recife, Heraldo do Monte teve as primeiras ex- periências como instrumentista em rodas de choro do bairro, enquanto tocava clarinete, violão e bandolim. “Estudei mú- sica por puro amor, acho que ela é uma espécie de deusa que escolhe pessoas e as escraviza com sua beleza. O acaso me puxou para ser profissional”, crava Heraldo do Monte, no texto de apresentação do livro. "Uma vez profissional, me senti como um operário anônimo, dedicado, disciplinado e responsável pelo sustento de minha família. Trabalhei em casas noturnas, com carteira assinada, CLT, como qualquer operário.”
Heraldo do Monte integrou grupos como o Quarteto Novo, ao lado de Hermeto Pascoal, Theo de Barros e Airto Moreira, em 1967. Esse foi um projeto que se tornou referência para a música instrumental brasileira por utilizar elementos sonoros da cultura nordestina ao invés da sonoridade dos jazz-trios, que eram tendências na época. Ele também integrou bandas como Dick Farney Trio, Heraldo e seu Conjunto Bossa Nova, Grupo Medusa, Hermeto Pascoal & Grupo, Os Cinco-Pados, Walter Wanderley & Seu Conjunto.
"Quando o livro chegou até as minhas mãos, percebi como ele é luxuoso. Teve muita gente envolvida”, diz Heraldo, radicado em São Paulo, em entrevista ao Viver por telefone. “As primeiras páginas contam com uma breve autobiografia minha, que é um compilado de textos que publiquei no Facebook. Eu escrevo muita besteira”, diz, aos risos.
Heraldo explica que começou a estudar música formalmente na Orquestra da Escola Industrial, comandada pelo maestro Mário Câncio. “Ele lecionou pra muita gente e é responsável pela minha história na música. De cara, já falou: ‘Aluno meu não pega em instrumento antes de fazer um curso’. Isso era impressionante, tínhamos de fazer esse curso com ele.”
EDUCAÇÃO MUSICAL
Elisa Bracher e Ivan Vilela, que integram o Instituto Çarê, esperam que a coleção Brasil de Dentro chegue não apenas aos artistas intérpretes e aos estudiosos da música instrumental, mas também às escolas e espaços de educação musical e artística, além do público em geral interessado pela história da música brasileira. "O Instituto Çarê faz, deste livro, a sua primeira publicação por acreditar que o passo inicial para um país se tornar grande seja reconhecer a sua própria cultura como ponto de referência e de partida no diálogo com o mundo que o cerca. Esperamos que este seja o primeiro de muitos cancioneiros", diz o texto assinado conjuntamente por Bracher e Vilela