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Livro de Silviano Santiago reflete sobre obras de Machado de Assis e Graciliano Ramos

O escritor, ensaísta e crítico literário Silviano Santiago lança livro Fisiologia da composição.

A obra será lançada num bate-papo virtual entre o autor e o editor Schneider Carpeggiani nesta segunda-feira (07), às 19h, no canal da Cepe no YouTube. O livro é o terceiro de Santiago lançado pelo selo Suplemento Pernambuco, da Cepe, todos editados por Carpeggiani. O primeiro foi Genealogia da ferocidade (2017), que mostrou como a crítica tentava domesticar a "monstruosidade" de Graciliano Ramos, seguido por Uma literatura nos trópicos (2019), relançamento do clássico de 1978 que pensava a identidade latina fora das perspectivas colonialistas.

Fisiologia da composição tem como objeto de estudo as obras Memórias póstumas de Brás Cubas e Esaú e Jaco, de Machado de Assis, e Memórias do cárcere, de Graciliano Ramos. Em relação a Machado, o ensaísta aborda o conceito de defunto autor, uma espécie de autor sem corpo. Ele destaca que Machado sempre trouxe para seus romances personagens que apresentam males físicos, como herpes ou síncopes, problema que ele mesmo sofria em crises epiléticas e desmaios. A tematização do corpo também é ressaltada em Ramos, sobretudo uma ideia de prisão, com o conceito forma-prisão, usado para divagar por ideias de perspectivas de liberdade, o corpo do prisioneiro e o corpo do escritor latinoamericano. Graciliano, inclusive, também é alvo de Em liberdade (1981), outro livro de Santiago.

"Graciliano Ramos e Machado de Assis são duas obsessões constantes na obra de Silviano", diz Carpeggiani. "E ao voltar para esses autores, justamente no momento em que o seu primeiro grande romance, Em liberdade, completa 40 anos, com Fisiologia da composição Silviano Santiago mostra porque é um dos nossos ensaístas mais inovadores." Santiago usa o conceito de "composiçã" tal como expresso no ensaio clássico de Edgar Allan Poe, The philosophy of composition (1846), que apontava para uma análise do poema, do romance ou do conto "passo a passo, até completar-se, com a precisão rígida de um problema matemático".

"O estudo da composição será a estrada real que, se percorrida analítica e metodologicamente, nos levará ao conhecimento do corpo presente, realmente presente e livre, na gênese e na criação da obra literária. Na sua composição, o corpo do autor se abre à curiosidade intelectual e ao interesse analítico do leitor", reflete Silviano Santiago, na introdução. "Pretendo operar a análise de romance, do romance brasileiro moderno, através do significado que o termo homologia ganhou na teoria dos conjuntos e na biologia (também na crítica literária de fundamento linguístico). Detecta-se a relação homológica pela observação e a análise na semelhança de origem e de estrutura entre órgãos ou partes de organismos diversos", registra, em outro texto.

"Refazer os bastidores da criação literária e o percurso acadêmico como linhas paralelas que se encontram revela-se inusitado se inserido no atual momento da literatura brasileira", diz Eneida Maria de Souza, professora titular de teoria da literatura na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). "O relato de obra e vida estampado neste livro de Silviano Santiago encena a homologia entre escritor e crítico, vocação ficcional de tornar o ensaio teórico em ‘grafia-de-vida’, sem romper com o distanciamento autoral. O livro reforça a leitura do corpo como metáfora, no intuito de revitalizar procedimentos escriturais presentes tanto nas obras revisitadas quanto na enunciação narrativa do ensaio", encerra.

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